O Grupo Salta — a maior rede de educação básica do País com 170 mil alunos — acaba de fazer uma aquisição em Fortaleza, comprando a rede Antares, que tem 10 escolas e 5 mil alunos.
A companhia também está na reta final de um segundo M&A, que já entrou na fase de diligência e deve ser concluído nos próximos dois meses, o CEO Bruno Elias disse ao Brazil Journal.
O plano é fazer pelo menos três aquisições este ano, além de abrir 20 unidades organicamente, disse o CEO.
Para efeito de comparação, a companhia fez apenas um M&A no ano passado, de uma rede de 4 escolas, e abriu outras 16 unidades do zero. Em 2023, foram apenas 8 aberturas e nenhuma aquisição — em parte porque a companhia viu seu crédito secar depois da crise da Americanas.
O Salta não revela o valor da transação da Antares, mas disse que espera desembolsar de R$ 300 milhões a R$ 350 milhões em M&As este ano. A companhia pretende investir outros R$ 150 milhões nas aberturas orgânicas.
Com o fim do período de matrículas, o Salta já tem uma receita contratada para o ano de R$ 3 bilhões, com um EBITDA de R$ 570 milhões, já considerando os números da Antares. O EBITDA pode ultrapassar os R$ 600 milhões se a companhia conseguir concluir os outros dois M&As.
Bruno disse que o Salta vai bancar toda essa expansão com a geração de caixa do negócio e emissão de dívida.
A companhia tem hoje uma dívida líquida de R$ 1 bilhão, uma alavancagem de 2,4x EBITDA considerando os números do ano passado. Se fizer os três M&As previstos, o Salta precisaria captar mais R$ 100 milhões em dívida, o que levaria a uma redução da alavancagem, dado o crescimento do EBITDA.
“Mas se encontrarmos mais oportunidades boas de M&A podemos levantar mais dívida. O que não queremos é passar de uma alavancagem de 3x, mas até lá tem bastante espaço,” disse Bruno.
O Salta tem entre seus investidores a Atmos Capital, que entrou no ano passado, e a Gera e a Warburg Pincus, que estão há oito anos no captable.
A companhia também poderia levantar equity com sua base ou atrair novos investidores — mas Bruno disse que isso só faria sentido para um movimento mais transformacional.
“Vemos valor em aquisições maiores também, e para isso precisaríamos ter um caixa mais reforçado,” disse ele. “Mas esses são processos mais longos, que podem levar anos.”
O Grupo Salta é o maior player disparado do mercado de educação básica, que soma mais de 9 milhões de alunos e movimenta mais de R$ 120 bilhões por ano. Com seu faturamento de R$ 3 bi, a companhia tem pouco mais de 2,5% de market share.
Outros players relevantes são a Inspira, controlada pelo BTG e Advent e que tem cerca de 50 mil alunos; o Grupo SEB, de Chaim Zaher, que tem cerca de 30 mil; e o Grupo Raiz e a Rede Decisão, que têm entre 10 mil e 20 mil cada.
Há ainda a Bahema — o único player listado — que tem perto de 10 mil alunos e vale R$ 87 milhões na Bolsa.
Bruno disse que outro plano da companhia — até para dar liquidez aos acionistas mais antigos — é fazer um IPO, mas isso depende de uma retomada do mercado brasileiro.
“No exterior seria mais difícil abrir o capital porque é um negócio que eles não entendem. Eles não têm escolas de classe média. A escola de classe média deles é a pública. Então é até difícil explicar o negócio, não é algo natural para eles,” disse o CEO.
O Grupo Salta também entrou recentemente numa nova vertical que ainda é pequena, mas que Bruno diz ter potencial.
A companhia fez uma parceria público-privada com o Governo do Paraná para administrar 34 escolas do Estado. O currículo continua sendo o do Estado; o Salta cuida apenas da gestão das escolas, incluindo a contratação dos professores, coordenadores e diretores.
A parceria começou há quatro meses e responde hoje por cerca de 2% da receita da companhia, ou R$ 60 milhões. A margem da operação é próxima de zero.
“Por enquanto é uma iniciativa de propósito e aprendizado, e nenhum dinheiro. Mas com escala achamos que conseguimos ter margem positiva,” disse ele.
Hoje o Salta atende 24 mil alunos da rede pública do Paraná. Nas contas de Bruno, com mais de 100 mil alunos já daria para operar com lucro.
“Estamos na fase de MVP, mas se der certo acho que pode ser um caminho interessante também de expansão, até porque existem mais de 40 milhões de alunos na rede pública. É um mercado 4 vezes maior que o privado,” disse ele.