Se a greve dos roteiristas e atores de Hollywood se prolongar muito, ela pode levar a indústria cinematográfica ao “colapso absoluto,” disse Barry Diller, o lendário ex-CEO da Paramount e atual chairman do conglomerado de mídia IAC.
Um visionário da mídia e do entretenimento, Diller sugeriu uma solução para o impasse: uma redução de 25% no pagamento dos atores e dos roteiristas mais bem pagos. Assim seria possível remunerar melhor os profissionais na base da pirâmide salarial e reduzir o fosso que os separa das celebridades.
Do alto de seus 81 anos e décadas de trabalho nessa indústria, Diller diz que, se a paralisação não for superada em breve, “não haverá muitos programas para as pessoas assistirem”, e o impacto será sentido nos serviços de streaming – com as pessoas cancelando assinaturas – e em toda a cadeia de produção.
“Haverá uma queda na receita de todas as empresas de cinema, das redes de TV. Quando a greve chegar ao fim, não haverá dinheiro disponível para retomar as produções,” disse Diller. “Haverá efeitos devastadores se isso não for superado logo.”
Diller lembra que a produção de filmes e séries é um “negócio gigantesco” tanto no mercado doméstico como nas exportações. “Essas condições podem levar ao colapso de toda a indústria.”
Diller fez essa avaliação no programa “Face the Nation,” da rede CBS.
Para ele, a falta de confiança mútua está na raiz da greve.
“O sindicato dos atores diz, ‘Como podem essas 10 pessoas que comandam as companhias ganharem todo esse dinheiro e não nos pagar mais?’ Aí você olha do outro lado e vê que os 10 atores mais bem pagos recebem ainda mais que os executivos do top 10,” disse Diller na entrevista. “Provavelmente, quem está no topo está ganhando mais do que deveria.”
Daí sua proposta de redistribuir a renda em Hollywood. “Como uma iniciativa de boa-fé, os atores mais bem pagos deveriam ter uma redução de 25% naquilo que recebem para diminuir a diferença entre os que são extremamente bem pagos e aqueles que não são,” disse o empresário.
Segundo uma reportagem do Los Angeles Times, o ganho anual médio dos roteiristas é de US$ 260 mil. Já os executivos no comando dos estúdios e das produtoras recebem em média US$ 28 milhões/ano.
Os roteiristas representados pelo Writers Guild of America (WGA) estão com os braços cruzados desde o dia 2 de maio. Na última sexta-feira, o movimento grevista ganhou a adesão dos mais de 160 mil atores e atrizes filiados ao Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA).
Em ambas as categorias, não houve progresso nas negociações com a Alliance of Motion Picture and Television Producers, que representa os estúdios. É a primeira vez em 63 anos que ambas as categorias entram juntas em uma paralisação.
Os roteiristas se queixam dos vencimentos corroídos pela inflação e também pedem proteção contra a concorrência crescente da inteligência artificial.
Os atores também reivindicam a regulamentação da IA e pedem um aumento nos chamados ganhos residuais, decorrentes de suas participações em filmes antigos e séries disponíveis nas plataformas digitais.
Diller comandou por uma década a Paramount, entre os anos 70 e 80.
Hoje na IAC, Diller possui sob seu guarda-chuva inúmeras marcas online que comandam muito tráfego na internet, como a Allrecipes.com, Daily Beast, Investopedia e People.
Com a mulher, a designer Diane von Fürstenberg, o executivo foi um dos filantropos que lideraram o projeto urbano que transformou o High Line em um dos parques mais emblemáticos de Manhattan, renovando por completo toda aquela região degradada de Nova York.
É também um dos doadores do Hollywood Fund, que ampara veteranos e aposentados do show business.
Na entrevista à CBS, Diller compartilhou os temores da indústria de mídia com as consequências do avanço da inteligência artificial. Segundo o empresário, grandes empresas do setor estão preparando um processo coletivo para interromper o uso de conteúdo sem o pagamento dos direitos autorais.