Os grandes bancos americanos precisam suspender seus dividendos e levantar US$ 200 bilhões em capital agora para se preparar para o stress que a crise vai gerar em seus balanços.
Quem diz é Neel Kashkari, o presidente do Federal Reserve de Minneapolis que, na crise global de 2008, foi encarregado pelo Governo Obama de supervisionar o TARP, o programa que injetou liquidez e salvou o sistema financeiro americano.
Num artigo publicado hoje no Financial Times, Kashkari disse que diferentemente da maioria das empresas, os bancos têm “condições de se vacinar contra a crise e deveriam fazer isso.”
Coincidência ou não, o setor está underperformando os índices nos EUA no pregão de hoje, com os grandes bancos caindo bem: JP Morgan (-3,6%), BankofAmerica (-4,7%) e Wells Fargo (-6%). O S&P 500 opera estável.
O economista lembrou que, em 2007, quando autoridades do governo americano pediram aos CEOs dos grandes bancos que levantassem capital para garantir musculatura para sobreviver à crise, as respostas mais comuns foram: ‘Estamos bem. Não precisamos disso. Nosso balanço é sólido como pedra.”
O desfecho da história é conhecido: o Tesouro americano teve que resgatar os bancos, e o custo foi pago por toda a sociedade.
“Já estamos escutando histórias sobre como os pequenos negócios, tendo demitido seus funcionários, estão dizendo aos proprietários de seus imóveis que não vão pagar até a crise passar. Os proprietários por sua vez falam a seus banqueiros que não vão pagar a hipoteca,” escreveu Kashkari. “Multiplique esse exemplo por milhares. O custo econômico da crise eventualmente vai chegar ao setor bancário.”
Com menos capital entrando e ainda assim tendo que pagar os juros de suas próprias obrigações (para evitar um default), os bancos terão uma perda de capital.
Kashkari nota que ainda não está clara qual será a duração dos lockdowns, e que há cenários que preveem algum tipo de limitação da atividade econômica por vários e vários meses.
Ainda que o balanço dos bancos esteja mais sólido hoje do que em 2008, o economista acredita que uma crise prolongada poderia facilmente minar o seu capital.
“Testes de estresse modelados pelo Fed de Minneapolis mostram que em cenários severos os grandes bancos (aqueles com ativos totais superiores a US$ 100 bi) poderiam perder juntos centenas de bilhões de dólares em capital.”
Em 2008, os contribuintes americanos injetaram US$ 200 bi para fortalecer o balanço dos bancos. Kashkari acredita que se os bancos levantarem esse montante de investidores privados hoje, como uma medida preventiva, poderão suportar até os piores cenários do vírus.
“Se a crise se mostrar menos severa do que imaginamos, eles podem retornar esse capital com recompra de ações e pagamento de dividendos quando a crise passar,” escreve o economista.
Segundo ele, os bancos podem argumentar que a crise não é culpa deles, assim como não é das companhias aéreas e hotéis, e que portanto deveriam ser resgatados. “Mas há uma diferença importante: podemos ver este risco vindo e os bancos [ainda] têm tempo para se preparar. As aéreas e hotéis não tiveram esse aviso prévio.”
Kashkari comenta que todo mundo está fazendo coisas extraordinárias: as pessoas estão ficando em casa e sacrificando o convívio social; profissionais da saúde estão trabalhando noite e dia para cuidar dos doentes; o Congresso acaba de aprovar um pacote de resgate de US$ 2 trilhões; e o Fed lançou vários pacotes de empréstimos emergenciais.
“Os bancos precisam fazer sua parte.”