O Grupo Pão de Açúcar começou os procedimentos para cindir o Assaí em uma empresa independente, criando a primeira empresa 100% de atacarejo listada na B3.
 
O movimento — que muitos analistas disseram ser overdue — cria valor para os acionistas do GPA porque o atacarejo (que está crescendo quase 30% este ano e representa 63% do EBITDA do GPA no Brasil) deve comandar múltiplo de cerca de 25x lucro, enquanto o resto do GPA (hiper e supermercados) devem negociar ao redor de 10x lucro.
 
Hoje, o GPA inteiro negocia a 11x o lucro estimado para 2021.
 
A ação opera em alta de 15% no pre-market em Nova York.
 
Como parte da cisão, o acionista de GPA receberá ações do Assaí na medida de sua participação na companhia.  O Assaí será listado no Novo Mercado da B3 e na NYSE, assim como o GPA. O processo todo deve estar concluído em fevereiro.
 
A decisão vem num momento de severa underperformance do varejo alimentar, com o GPA em queda de 31% desde o inicio do ano e o Carrefour Brasil, caindo 10%.
 
Comandado pelo CEO Belmiro Gomes, o Assaí hoje é uma companhia de 173 lojas que deve faturar R$ 36 bi e gerou EBITDA de R$ 2,4 bi este ano (com margem EBITDA de 7,2%).   O Assaí tem um share de 28,5% entre os players de atacarejo e deve fechar o ano com 185 lojas e chegar a mais de 250 em 2023.
 
A separação dos ativos também abre oportunidades de M&As estratégicos para os outros formatos de varejo do GPA, como super e hipermercados e lojas de vizinhança.
 
No Safra, Guilherme Assis sugeriu que esse ativo pode ser vendido. “A principal dúvida que permanece é se o acionista controlar Casino colocará à venda a bandeira premium Pão de Açúcar e as operações da Exito fora do Brasil, fechando ou descartando as mais problemáticas bandeiras Extra Hipermercado e Supermercado,” escreveu Assis. 
 
Para um analista do buyside, “o GPA tem vários defeitos, mas tem uma coisa que o mercado aprecia muito, que é a recorrência de vendas. Eles poderiam aproveitar isso com parcerias com algum player de logística ou ecommerce.”
 
Aplicando os múltiplos de empresas comparáveis, o Credit Suisse disse que o Assaí sozinho deve valer R$ 17 bilhões — o equivalente a toda a capitalização de mercado do GPA e “implicando quase nenhum valor patrimonial para Exito, multivarejo e outros negócios (por exemplo, James Delivery e Stix Fidelidade), o que não é justo, em nossa opinião, especialmente à luz do forte momento operacional para as empresas de varejo de alimentos no Brasil, que esperamos continuar nos próximos trimestres,” escreveram os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto.

O banco tem um preço-alvo de R$ 112/ação para o GPA hoje.