Uma das consultorias mais lidas por investidores globais disse hoje que Jair Bolsonaro poderá imitar Donald Trump e contestar os resultados das urnas caso saia derrotado em outubro. Mas um golpe no Brasil é “altamente improvável”, disse a Gavekal.

O risco de tumulto político e protestos violentos causa preocupação, mas, do ponto de vista dos investidores, há uma boa oportunidade de valorização dos ativos brasileiros tão logo a incerteza política seja superada.

Os analistas Tom Miller e Udith Sikand, autores do relatório, passaram duas semanas no Brasil e saíram convictos de que é remota a possibilidade de uma ruptura da democracia.

Embora exista uma boa chance de Bolsonaro não reconhecer os resultados, “especialmente se não houver um vencedor no primeiro turno”, o presidente “não conta com o apoio dos militares de alta patente” para permanecer no Planalto contra a vontade dos eleitores.

“Um cenário mais provável é que Bolsonaro use a ameaça de caos para fechar um acordo a favor de sua liberdade,” diz o relatório. “Vários membros de sua família estão sendo investigados por corrupção, e ele deseja evitar o destino de Lula,” preso em 2018.

“Os investidores devem se preparar para tumultos nas ruas do Brasil, mas não devem apostar em uma ruptura política,” diz o relatório da empresa.

A contestação eleitoral por parte do atual presidente terá mais chances de ocorrer em um cenário de resultado apertado. “Se Lula levar no primeiro turno, Bolsonaro terá dificuldades para mobilizar apoio a seu favor.”

O texto lembra que Bolsonaro vem há tempos trabalhando para minar a credibilidade do processo eleitoral, atacando o voto eletrônico e sugerindo que os militares façam uma “apuração paralela.”

Os analistas políticos ouvidos pela Gavekal estimam que 20% dos apoiadores do presidente sejam “fanáticos” – incluindo aí policiais, milicianos e afins. “Bolsonaro enfraqueceu as leis de controles de armas, aumentando a possibilidade de protestos violentos,” alertam.

“Trata-se de algo preocupante para os brasileiros, mas é improvável que se transforme em uma grande preocupação para os investidores”, dizem Miller e Sikand.

Ainda de acordo com os analistas da Gavekal, a maioria das pessoas com as quais eles conversaram no Brasil vê Lula como favorito. Entre os gestores da Faria Lima, porém, Bolsonaro ainda não é tido como carta fora do baralho.

No final do texto, a Gavekal comenta o cenário econômico. Cita que a alta recente das commodities começa a aparecer no PIB e que “até mesmo o desemprego, um problema crônico, caiu para o menor nível em mais de seis anos.”

Porrada na Bolsa?  Só depois da eleição, e dependendo do cenário global, diz a Gavekal.

“Se as preocupações com uma recessão global se provarem exageradas, as commodities devem retomar sua alta depois da correção recente, e só isso já será suficiente para turbinar a economia brasileira.  Agora, se a nuvem da incerteza política se dissipar junto com uma alta nas commodities, os depreciados ativos brasileiros têm tudo para decolar.”