Um dia depois da Eletromidia aumentar o limite de seu poison pill de 20% para 27,5%, a Globo comprou mais 10,8 milhões de ações da companhia de mídia out of home.
A compra, que custou R$ 200 milhões, elevou a participação da Globo de 19,5% para 27% do capital da companhia.
O bloco saiu a R$ 15,50, um prêmio de 15% em relação ao fechamento de ontem, mas ainda abaixo do valor do IPO da Eletromidia, que saiu a R$ 17,80 em fevereiro de 2021.
Com a compra de hoje, a Globo já desembolsou quase R$ 1 bilhão em ações da Eletromidia.
A posição começou a ser montada em março, quando a Globo comprou 9,5% do capital numa transação privada com a HIG — que após a venda ainda controla a empresa com 45% das ações — e com o CEO Alexandre Guerrero.
O preço daquela transação ainda não se tornou público, o que tem levado gestores a questionar se os minoritários estão sendo tratados com isonomia.
No dia seguinte daquela compra inicial, a Globo chamou um leilão para comprar mais 10% em Bolsa a R$ 14 por ação; os acionistas que decidiram vender o fizeram sem saber o preço que a HIG recebera.
No mercado, a expectativa é que a Globo faça em breve uma oferta pelo controle da Eletromidia, dado o tamanho das sinergias entre os dois negócios — principalmente de receitas, com a Globo indicando anunciantes e vice-versa — e o tamanho da posição que a empresa dos Marinho já montou.
“Não dá para ficar meio grávido com 27% do capital. Para fazer um teste você compra 5%. É claramente um caminho para o controle com o menor preço possível,” disse um gestor comprado no papel.
Para fazer uma OPA de fechamento de capital, a Globo teria que desembolsar mais R$ 3 bilhões, considerando que ela ainda precisaria comprar 100 milhões de ações e que a HIG já sinalizou que não venderia o controle por menos de R$ 30 por ação.
A gigante da mídia tem bala na agulha e disposição para isso: ela tem R$ 14 bilhões em caixa e um negócio declinante que precisa urgentemente de novas avenidas de crescimento.
Para este gestor, é de interesse da Globo fazer a transação o mais rápido possível. “Quanto mais tempo demorar, mais caro vai ficar, porque a companhia deve reprecificar com os próximos resultados.”
Apesar de dentro das regras, a forma como a Globo está comprando o controle da Eletromidia tem desagradado os minoritários.
Para um deles, a Globo está “ferindo o espírito do Novo Mercado,” de tratar o minoritário igual ao controlador.
“Ela está comprando um stake do controlador com o objetivo de ter o controle da empresa, e fazendo o preço médio com o minoritário, pagando um valor bem menor,” disse ele.
O valor pago à HIG na transação privada ainda não foi publicado — mas deve se tornar público nos próximos dias, quando a Eletromidia enviar à CVM seu formulário 358 referente ao mês anterior.
Gestores estudando o assunto disseram ao Brazil Journal que o valor pago à HIG ficou próximo de R$ 23 por ação. Ao mesmo tempo, a Globo fez os leilões com os minoritários a R$ 14 e R$ 15,5.
Um acionista notou que a Globo parece ter se apressado para fazer o leilão de hoje antes que o preço pago à HIG se torne público, o que poderia levar os minoritários a não aceitar o preço de hoje.
“Eles não estão fazendo nada ilegal, mas os minoritários vão ficar bastante atentos agora, porque o controle dessa companhia está sendo vendido e os minoritários não receberam nenhum prêmio até agora,” disse o gestor.
Uma possibilidade que iria contra a regra do Novo Mercado — e que a HIG já negou a diversos interlocutores — seria vender o controle por meio de uma transação privada que não incluísse os minoritários.
Os maiores acionistas da Eletromidia são a Equitas, com 7% do capital, a Brasil Capital, com 4%, a São Pedro Capital, também com 4%, e a Indie Capital, com 3%.
Na AGE de ontem, a Eletromidia também aprovou a mudança de um dos critérios para a definição do valuation no caso de uma OPA. Até agora, um dos critérios de valuation era pagar um prêmio de 20% sobre o último valor pago em uma compra feita por um acionista relevante. Na AGE, a Eletromidia reduziu esse prêmio para 10%.