Causou revolta entre os investidores a nomeação, pela Gerdau, de um nome ligado ao Itaú BBA para ocupar uma vaga em seu conselho de administração, no exato momento em que o mercado questiona o valor de uma operação feita pela empresa junto ao banco.
A Gerdau disse ontem que Fernando Iunes, um experiente banqueiro e hoje assessor sênior do Itaú BBA, substituirá Oscar de Paula Bernardes Neto, que está deixando o conselho da siderúrgica para assumir ‘outros desafios profissionais’.
“Em vez de mostrar que está preocupada com a péssima reação que o mercado teve à operação, a Gerdau não demonstrou o menor constrangimento ao nomear alguém do próprio Itaú BBA,” disse um investidor. “Parece uma afronta aos minoritários.”
Outro investidor disse que a Gerdau adotou uma ‘postura Jarbas Passarinho’, lembrando da frase infame com que o ex-ministro da Justiça do regime militar apoiou o AI-5: “Às favas os escrúpulos de consciência.”
A revolta dos minoritários remonta ao final de julho, quando a Gerdau anunciou que estava gastando quase 2 bilhões de reais recomprando participações minoritárias em suas controladas, numa operação descrita por investidores como ‘economicamente ilógica’, ‘indefensável’ e prejudicial à empresa.
Inicialmente, a Gerdau não divulgou quem eram os vendedores das participações. Depois de montar o quebra-cabeças, os acionistas minoritários descobriram que o principal vendedor (que estava carregando as participações) era o Itaú BBA, que as tinha comprado como parte de uma restruturação societária que a Gerdau fez ao longo de 2005. A siderúrgica mais tarde confirmou que o Itaú era um dos vendedores.
O principal objetivo da reorganização societária teria sido reavaliar os ativos da empresa, o que ajudaria a Gerdau a pagar menos impostos.
Para permitir esta reavaliação, a Gerdau precisava que alguém independente — preferencialmente de renome — comprasse um pedaço dos ativos a um valor mais alto do que o registrado em seu balanço. Foi então que o Itaú BBA comprou uma fração do capital das controladas.
Em julho, o Itaú exerceu o direito, previsto em contrato, de vender as participações de volta a uma empresa da família Gerdau, a INDAC. Mas quem comprou as participações foi a própria Gerdau, o que gerou o questionamento dos minoritários.
Pelo menos três gestoras já foram à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) reclamar de vários aspectos da governança corporativa da Gerdau, incluindo uma operação que evitou que a empresa tivesse que fazer uma oferta aos acionistas detentores de ações ON da Gerdau.
Oscar de Paula Bernardes Neto era um dos dois conselheiros considerados ‘independentes’ no conselho da Gerdau. O outro é o economista e consultor Affonso Celso Pastore.