A Starian — uma empresa de softwares verticais que acaba de nascer de um spinoff da Softplan — levantou R$ 640 milhões numa rodada com a General Atlantic, abastecendo o caixa para expandir sua estratégia para novos setores por meio de M&As.

A General Atlantic comprou uma participação minoritária relevante na companhia, que segue controlada pelos três fundadores: Carlos de Matos, Ilson Stabile e Moacir Marafon. 

A captação foi majoritariamente primária mas teve também um componente secundário. 

A Softplan foi fundada há 34 anos em Florianópolis e operava com softwares para o setor público e privado. No final do ano passado, ela decidiu fazer o spinoff do negócio focado no setor privado para lhe dar mais autonomia e foco — e já mirando uma captação. 

“São dois negócios que têm rentabilidade bastante parecida, mas o setor privado tem crescido a uma taxa maior e tem mais potencial de escalabilidade. Então a projeção no futuro é que a Starian tenha margens estruturalmente maiores,” Ionan Fernandes, o CEO da Starian, disse ao Brazil Journal

A Starian deve faturar R$ 530 milhões este ano, um crescimento de 34% ano contra ano, com uma margem EBITDA de 22%. Já a parte dos softwares para o setor público, que vai continuar se chamando Softplan, terá uma receita de R$ 470 milhões. 

Os números posicionam a companhia no top quartile global da chamada “regra dos 40” do setor de SaaS — que prega que uma boa empresa do setor precisa ter a soma do crescimento e da margem EBITDA maior do que 40. Enquanto a média das melhores empresas do mundo é de 45, a Starian está em 56. 

O valuation da rodada de hoje não foi revelado, mas para efeito de comparação a TOTVS negocia na Bolsa a cerca de 15x seu EBITDA estimado para 2026. 

Aplicando este mesmo múltiplo, e assumindo que o EBITDA da Starian cresça uns 30% no ano que vem, o valuation teria sido na casa de R$ 2,2 bi.

Até agora, a companhia nunca havia feito uma rodada e vinha crescendo apenas com a geração de caixa do negócio e a emissão de dívidas. No ano passado, antes do spinoff, a Softplan captou R$ 250 milhões com uma debênture.

André Tavares, o CFO, disse que com os recursos da rodada o plano é acelerar as aquisições, mirando em transações maiores. 

“A empresa sempre foi muito geradora de caixa, então tinha um certo volume de aquisições que podíamos fazer com o caixa e endividamento. Mas vimos que podíamos viabilizar nossa tese em outras verticais, e para isso precisamos de mais capital,” disse ele.

A Starian opera hoje em três verticais: a construção civil, o mercado de advocacia e o que ela chama de eficiência operacional, com soluções de produtividade. O plano é abrir de uma a três novas verticais nos próximos dois anos. 

A estratégia da companhia é entrar nos setores com os chamados softwares de ponto de controle — basicamente, softwares que atuam no core do negócio e que variam de setor a setor — e depois ir adquirindo softwares adjacentes com o tempo. A visão é chegar a um momento em que as empresas do setor possam contratar todos os softwares que precisam apenas com a Starian.

Na construção civil, ela começou com o software de ERP, depois adquiriu um software de CRM, um de gestão de vendas, um de planejamento de obras e um de cotação de produtos para as obras. 

No setor de advocacia, começou com um software de controle de contratos para depois adquirir um software para o contencioso, outro para a resolução de conflitos e um terceiro para fazer o peticionamento.

“Esse modelo gera uma retenção muito grande. A partir do momento que o cliente que tem só um software nosso integra um segundo, isso reduz em 5x o cancelamento. Em clientes com mais de 3 softwares nossos, o churn praticamente não existe,” disse o CEO. 

Ionan disse que ainda não decidiu qual será o próximo setor da Starian, mas tem olhado para os mercados de saúde, viagens, agronegócio, energia e educação. “Gostamos de setores que estão mais fora do radar de tech, e onde por isso a competição é menor,” disse ele. 

O processo de captação da Starian começou em março e foi assessorado pelo Bank of America. A companhia conversou com mais de 15 investidores, entre fundos globais de software, fundos brasileiros de private equity e fundos de growth equity como a GA. 

Ionan disse que a opção pela GA não levou em conta só o tamanho do cheque. 

“Eles têm uma profundidade de conhecimento da execução dessa tese muito grande. Fomos olhar os benchmarks globais que fazem o que estamos fazendo, e a GA tem investimentos em empresas assim no mundo,” disse ele. “Então eles vão ter uma capacidade muito grande de agregar valor ao negócio.”