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Quando Gabriel Medina subir na prancha este fim de semana para tentar o bicampeonato no mundial de surfe no Havaí, uma empresa carioca vai estar surfando a mesma onda.

A Go4it — que cria e investe em ativos de esportes e e-gaming — trabalha com Medina há cinco anos e hoje o representa junto a patrocinadores como RipCurl, Guaraná Antarctica, Oi, Audi, Vult e Orthopride, a clínica de odontologia à qual Medina empresta seu sorriso. 

10591 bb07bf88 5b60 ac3a 4348 ee3e6beda0eaAlém de Medina, a empresa também é o ‘marketing agent’ dos jogadores Thiago Silva e Daniel Alves, ambos do Paris Saint-Germain, e Leticia Bufoni, a No. 1 do skate feminino no mundo, que já conseguiu contratos com a Beats, a RedBull e a Nike.

Com Medina e Leticia, a Go4it fincou sua bandeira nos dois esportes que ganharão status olímpico a partir de Tóquio em 2020.

Leticia, 25, que a Go4it representa há dois anos, é um fenômeno nas redes sociais e já fez uma campanha da Nike ao lado de Serena Williams.  
 
Jovem, bonita, campeã, “a Leticia se tornou uma estrela maior que o próprio esporte, muito como a Sharapova,” diz um executivo de marketing que é cliente da Go4it. “Eles construíram uma imagem que transcende um pouco o esporte.” 

Quando Neymar assinou contratos de patrocínio com a corretora Rico (uma marca da XP) e com o Café Pilão, foi a Go4it que se sentou à mesa com os anunciantes representando o jogador. Fora do Brasil, a Go4it já fechou contratos para Lewis Hamilton e para Draymond Greene, o jogador de basquete do Golden State Warriors.

Por definição, a representação de talentos é um negócio que envolve confiança e relações pessoais, mas, no Brasil, ela sempre foi mais arte que ciência.  

“O empresário do atleta é sempre o melhor amigo do cara, o pai do cara, ou o irmão do cara, gente mais preocupada em ter aquela ‘entourage’ ali do que em gerar valor para a marca,” diz um executivo de marketing.

A Go4it está transformando o negócio ao injetar um nível de profissionalismo inédito no País, fornecendo infraestrutura a seus atletas, conectando-os a ícones mundiais e, last but never least, fazendo tocar o sininho da máquina registradora.

Numa estratégia para globalizar a marca pessoal de Gabriel Medina, a Go4it aproximou o surfista do piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton. Os dois atletas já tinham amigos em comum, mas passaram a se frequentar depois que a Go4it criou a oportunidade do primeiro encontro.

Hoje, um posta sobre o outro nas redes sociais. (Medina tem 6,5 milhões se seguidores no Instagram;  Hamilton, 8,8 milhões.) Na última quinta, quando Medina ganhou a primeira bateria no Havaí, Hamilton postou sobre o amigo com o hashtag #vaimedina.

A Go4it foi fundada por César Villares — um ex-tenista universitário que já trabalhou no grupo Lagardère o conglomerado de mídia francês, e na IMG, a empresa de talentos — e Marc Lemann, filho de Jorge Paulo (e que também jogava tênis na faculdade).

Marc toma conta da Go4it Capital, o braço de investimento que busca empresas de esportes, tecnologia e mídia com escala global. Nos últimos três anos, a dupla já investiu em 10 empresas, incluindo a Strava, a maior rede social de esportes do mundo; a On Running, uma marca suíça de tênis usada para corridas; e a Laver Cup, um torneio de tênis que coloca os seis melhores jogadores europeus para jogar contra adversários do resto do mundo.

10590 9afb54e2 16d4 fa94 f65c bf1ca9ef9303A Go4it também apresentou o futebol-raiz ao mundo nutella dos jogos eletrônicos.

Foi difícil, mas os garotos conseguiram convencer o Clube de Regatas do Flamengo, fundado em 1895, a criar um time de e-sports. O objetivo: trazer para o Flamengo novos torcedores de uma geração que o clube não estava acessando. O time, que compete no League of Legends, começou na segunda divisão e ao final do primeiro ano já está na primeira.

Felipe Stanford, o head de parcerias globais e atletas da Go4it, é responsável por achar os atletas, casá-los com anunciantes, e fazer toda a gestão da carreira. Antes da Go4it, ele trabalhou na IMG, onde cuidou da conta global da Visa, e trabalhou no Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio.

Quando começam a gerar patrocínios, os atletas têm que virar uma empresa.  A Go4it estrutura a companhia que passa a deter os direitos de imagem, dá assessoria jurídica, monta uma equipe médica multidisciplinar e até introduz o atleta a um ‘family office’ para administrar sua liquidez. “Fazemos tudo para ele não se preocupar com essa coisas e só se preocupar em ter uma carreira, treinar, andar de skate, surfar… ” diz Felipe.

“A gente quer trabalhar com quem tem potencial para se tornar campeão mundial, mas não só isso:  a gente olha a indústria ao redor do atleta, o que está acontecendo naquele esporte, para onde as coisas estão indo.  A gente quer ser uma butique, e não ter um volume grande de atletas.”   

No caso de Leticia, foi a Go4it que concebeu o “Leticia Let’s Go”, um reality show sobre a vida da atleta que passa no Canal Off.  Em outra frente, a empresa realizou o sonho de Leticia (e de praticamente todo atleta de esportes radicais) de ser patrocinada pela RedBull. Hoje, ela treina num centro de excelência de alta performance que a RedBull mantém em Santa Monica, na Califórnia, perto de onde Leticia mora. Ali, ela tem acesso a médicos, treinadores e academia.
 
Para além dos talentos que representa, a Go4it está desenvolvendo novos produtos e conteúdo. Em parceria com a Globo, lançou o Prêmio eSports Brasil, o ‘Oscar dos esportes eletrônicos’ e, junto com a Take4Content, acaba de criar o ‘Final Level’, a maior plataforma de games no Brasil, que em dois meses já tem 2 milhões de inscritos.  No canal da Final Level no YouTube, os millennials acompanham a Gameland, uma casa na Barra da Tijuca onde moram quatro gamers, cada um com 5 milhões de seguidores.  
 
Ali eles recebem convidados, fazem ações com os patrocinadores e jogam pra ganhar muito dinheiro — enquanto isso, a Go4it também fatura.