A Fitch elevou o rating brasileiro para ‘BB’, citando o desempenho econômico mais robusto que o esperado, a solidez das contas externas e a melhora nas projeções das contas públicas. Mas o outlook, segundo a agência de classificação de crédito, é neutro, o que reduz a probabilidade de um novo upgrade em breve.
Pelos critérios da Fitch, o País ficou a dois degraus de recuperar o investment grade, que designa as economias mais confiáveis do mundo. A nova nota da Fitch para o Brasil é o mesmo nível que a Moody’s já atribuía ao País.
A Standard & Poor’s, a primeira grande agência a conceder o grau de investimento para o Brasil, em 2008, está um passo atrás, com nota ‘BB-‘. Recentemente, a S&P concedeu um viés positivo, o que indica que uma elevação pode ocorrer nos próximos meses.
“O upgrade do Brasil reflete uma performance macroeconômica e fiscal acima do esperado em meio aos sucessivos choques recentes,” disse a agência em um comunicado divulgado hoje. “A Fitch espera que o novo Governo trabalhe em direção a novas melhorias.”
Segundo a Fitch, a despeito das tensões políticas ocorridas desde o rebaixamento do rating, em 2018, o Brasil “obteve progresso em reformas importantes para lidar com os desafios econômicos e fiscais.”
“O governo esquerdista de Lula defende o distanciamento da agenda liberal dos governos anteriores,” mas a Fitch disse esperar que o “pragmatismo” e os “pesos e contrapesos” de outras instituições evitem “desvios radicais” nas políticas micro e macro.
A posição fiscal vai se deteriorar em 2023, afirma a agência, mas o novo arcabouço e a reforma tributária deverão “ancorar uma estabilização gradual” das contas públicas.
Para a Fitch, a reforma dos tributos sobre o consumo oferece grande upside, porque ataca “um dos maiores gargalos da competividade”.
“O objetivo é simplificar um sistema extremamente complexo e eliminar distorções que alimentam a má alocação de capital,” afirma o comunicado.
A dívida pública brasileira recuou para 73% do PIB no final de 2022, um resultado melhor do que o esperado nas projeções feitas no início do ano, diz a Fitch. Ficou inclusive abaixo do registrado em 2019, antes da pandemia.
Pelas projeções da Fitch, a dívida bruta subirá para 75% do PIB em 2023 e deverá permanecer em trajetória ascendente nos próximos anos, embora “em um ritmo mais lento e a partir de um ponto de partida muito melhores do que o previsto anteriormente”.
Como observa a agência, o indicador se mantém bem acima da mediana de outros países com rating BB: uma relação dívida/PIB de 56%. Ainda segundo a Fitch, a conta de juros é elevada, mas cairá com o alívio monetário.
Os riscos de financiamento do setor público são mitigados pelo fato de o País ter um grande mercado local para os títulos e 94% do endividamento ser em moeda local.
Os resultados favoráveis nas contas externas também favoreceram o upgrade.
“A forte entrada de recursos e a diminuição das preocupações a respeito das políticas de Lula fortaleceram o real,” diz a Fitch. As reservas internacionais subiram 7% no ano, totalizando US$ 346 bilhões, e cobrem 8,4 meses de pagamentos de contas em dólar – “uma posição entre as mais robustas entre os países com rating BB.”
A agência destaca também a autonomia do Banco Central e queda na inflação. “As críticas explícitas de Lula ao BC não resultaram em tentativas de introduzir grandes mudanças no arcabouço das metas de inflação,” diz a agência. “As expectativas de inflação estão melhorando, depois de algumas tensões.”