O Federal Reserve está enxugando a liquidez no mercado internacional – e não “apenas” por meio da empinada na taxa de juros.
O BC americano também está revertendo as suas intervenções no mercado de títulos.
Em 2020, com o avanço da pandemia e seus efeitos na economia, o mercado dos títulos do Tesouro americano, os Treasury bonds, entrou em parafuso. Os compradores desapareceram, e o Fed precisou entrar como o tomador de última instância.
A intervenção somou aproximadamente US$ 5 trilhões, com o balanço do Fed saltando de US$ 4 trilhões para perto de US$ 9 trilhões.
A partir de junho do ano passado, o Fed iniciou uma reversão gradual do quantitative easing (QE), deixando que parte dos títulos em vencimento saíssem de seu balanço sem fazer novas compras.
Agora, o quantitative tightening (QT) vai ganhar velocidade: em setembro, o Fed vai eliminar de seu balanço US$ 60 bilhões em Treasuries e outros US$ 35 bilhões em títulos hipotecários, o dobro do volume dos três meses anteriores.
Os Treasuries representam um mercado de US$ 35 trilhões, cujas oscilações influenciam diretamente as finanças do governo e o custo do dinheiro na economia.
Traders temem que a desmontagem das posições do Fed cause turbulência no mercado de títulos. A falta de compradores para os papéis traz o risco de volatilidade e instabilidade nas transações.
A alta nos juros e o quantitative tightening reduziram a liquidez financeira. O ajuste faz parte da “dor”, como diz o presidente do Fed, Jerome Powell, para controlar a alta da inflação. O risco, na opinião dos traders, é errar na dose do remédio.
“Estou preocupado, porque com o QT e a alta dos juros poderemos ter uma recessão,” disse George Catrambone, diretor da Americas Trading, ao New York Times.
Segundo reportagem da CNBC, analistas da Cross Border Capital disseram que o QT representa um risco de instabilidade financeira que não vem sendo corretamente observado. A volatilidade poderá ser ainda maior porque o Banco Central Europeu também apertou o passo no seu enxugamento de liquidez.
A próxima reunião do Fed para definir a taxa básica de juros acontece na próxima semana, no dia 21 de setembro. A aposta da maioria é de que haverá uma nova alta de 0,75%, elevando os juros dos Fed funds para a faixa entre 3% e 3,25%.
Novas altas deverão ocorrer em novembro e dezembro, de acordo com a avaliação dos principais bancos de Wall Street. Muito provavelmente haverá também uma elevação no início do próximo ano.
O Bank of America, por exemplo, revisou para cima suas estimativas e agora espera que a taxa final chegue a 4%-4,25% – 0,5 ponto percentual acima da projeção anterior.