O Farallon Capital — um dos maiores hedge funds do mundo — se comprometeu a dar um crédito de até R$ 2,5 bilhões à Oi, jogando uma boia para a companhia num momento de queima de caixa crescente.
A operação, estruturada pelo sócio do Farallon responsável pela América Latina, Daniel Goldberg, é o maior dinheiro novo já dado a uma empresa em recuperação judicial no Brasil e compra tempo para a Oi vender ativos e levantar caixa para equacionar sua estrutura de capital de forma mais definitiva.
A linha de crédito estruturada é conhecida como debtor-in-possession financing (DIP), que dá ao credor senioridade sobre todas as outras dívidas e não fica sob o guarda-chuva da recuperação judicial. O Farallon deu uma garantia firme de R$ 1,63 bilhão (US$ 400 milhões) e disse à Oi que pode aumentar a linha até R$ 2,5 bilhões.
Pela linha de 24 meses, o Farallon vai receber a variação do dólar mais 12,66% no primeiro ano e 13,61% no segundo ano. As taxas ácidas mostram a dificuldade da Oi de obter crédito a preços razoáveis dado o estado de seu balanço.
Mas o DIP pode ser apenas o primeiro passo de uma reengenharia mais profunda que leve a Oi a vender seu negócio de celular, que desperta o interesse de concorrentes como Vivo, Claro e TIM. A venda da Unitel, avaliada em R$ 4 bilhões, permitiria à Oi repagar o DIP, mas não faria frente ao ambicioso plano de investimentos anunciado pela empresa, que quer investir R$ 7 bilhões/ano para se tornar o maior player de fibra ótica do País.
A Oi queimou mais de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre e terminou o período com uma posição de caixa de R$ 3,2 bi. Sua dívida bruta chegou a R$ 17,9 bi, frente R$ 16,8 bi no final do segundo trimestre.
A operação dá ao Farallon uma ampla gama de garantias, como uma cessão de recebíveis de R$ 200 milhões/mês, o penhor das ações da PT Ventures, a holding pela qual a Oi participa do capital da Unitel, e o próprio espectro da Oi Móvel, o ativo mais valioso da empresa.
O DIP do Farallon estava concorrendo com outras propostas de investidores para dar fôlego para a Oi atravessar a RJ — incluindo um bond lastreado em recebíveis que estava sendo estruturado pelo BTG e Morgan Stanley — e é uma vitória para o CEO Rodrigo Abreu, que assumiu o comando da empresa há poucas semanas.
O desembolso deve acontecer no início de janeiro.
No Brasil, o Farallon tem um histórico de operações estruturadas que inclui financiamentos ao negócio de saneamento da Odebrecht, à holding de infraestrutura Invepar e a rede de farmácias Nissei.