A diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem. 

A célebre frase do médico e alquimista suíço Paracelso (1493-1541) diz muito sobre o atual momento das faculdades de medicina.

Só este ano já foram abertas 6,3 mil vagas nos cursos de medicina em todo o País – um aumento de 18% em relação ao ano passado.

Essa expansão aconteceu mesmo depois do Ministério da Educação endurecer as regras para abertura de cursos, no início do ano.

Mas este aumento da oferta – que em tese poderia ser uma boa notícia para as empresas de educação que vêm apostando há anos no segmento devido a suas altas margens – já começou a impactar o economics de todo o setor, segundo o BTG Pactual.

Os analistas Samuel Alves e Yan Cesquim chamam atenção para a judicialização que fez explodir o número de novas vagas. Das 6,3 mil novas vagas, cerca de 3,5 mil foram criadas por meio de liminares – ou seja, sem o sinal verde do MEC.

Algumas faculdades têm apostado na judicialização e na rápida criação de novos cursos como forma de pressionar o MEC.

Uma decisão do STF também neste ano deu força a essa estratégia, já que, apesar das novas regras, os cursos autorizados por ordem judicial permaneceram em funcionamento.

Mas há sinais “preocupantes” nessa expansão, nas palavras do BTG.

“Algumas faculdades de medicina já estão reduzindo os preços das mensalidades em resposta à dificuldade de preencher suas vagas (historicamente, esses cursos conseguiam ajustar preços acima da inflação),” escreveram os analistas.

Segundo o banco, a média nacional da mensalidade dos cursos de medicina é de cerca de R$ 10 mil – mas já é possível encontrar cursos por cerca de R$ 7 mil.

“E é apenas uma questão de tempo até que esses efeitos alcancem as empresas listadas,” diz o banco.

Além disso, os M&As de faculdades de medicina já estão saindo a múltiplos abaixo da média histórica, principalmente pela oferta de cursos que ainda precisam de um aval do MEC.

Nos quatro M&As deste ano até agora, os preços ficaram entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão por vaga – comparado a R$ 2-3 milhões por vaga nos últimos anos. Para o BTG, isto pode gerar oportunidades de M&A para empresas que ainda não estão expostas ao segmento.

No setor, há quem defenda um maior controle dessa expansão – e que o foco passe da criação de novas vagas para a fiscalização da qualidade dos cursos.

Dado este quadro, os analistas do BTG não estão bullish com o setor.

“Dada a alta exposição de alguns players aos cursos de medicina (como Afya, Ânima e Yduqs), vemos essas mudanças mais ameaçadoras do que benéficas, embora isto varie de empresa para empresa.”