Dez anos atrás, os argentinos Guillermo Arslanian e Guillermo Freire fundaram a Trocafone, que com o tempo se transformou no maior ecommerce de celulares usados do Brasil.  

Agora, os dois Guillermos estão mirando num outro desafio cabeludo: os estoques parados das grandes marcas de vestuário e cosméticos. 

Freire e Arslanian deixaram o dia a dia da Trocafone no ano passado para fundar a BackChannel, que opera uma espécie de marketplace conectando as marcas com lojistas interessados em comprar o estoque excedente.

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“Começamos a perceber esse problema olhando para alguns parceiros da Trocafone como a Samsung e a Apple,” Freire disse ao Brazil Journal. “Quando eles lançam um modelo novo, os canais ainda estão estocados com modelos antigos, o que gera canibalização e conflito entre canais, além de ter um problema de caixa, porque eles ficam sentados em milhões de reais em estoque parado, que vai se deteriorando mês a mês.”

Quando identificaram o problema, os empreendedores foram pesquisar se já havia alguma solução no Brasil — e não acharam nada.

Mas encontraram uma empresa nos Estados Unidos, a Ghost, que criou um marketplace B2B privado onde as marcas conseguem listar seus produtos de forma anônima, sem que ninguém do mercado saiba o que ela está vendendo. 

Na Ghost, os potenciais compradores — que vão de grandes outlets até lojistas de marketplace — podem fazer ofertas por esse estoque seguindo os parâmetros estabelecidos pelo vendedor. 

A BackChannel trouxe esse modelo para o Brasil.

“Fazemos um matching inteligente com IA entre o que a marca quer e os compradores que temos,” disse o fundador. 

Ele dá o exemplo de uma marca líder de tênis, que tem muito excesso de estoque de coleções passadas e cuja estratégia de venda da coleção nova é no canal online. 

“Essa marca vai querer que o estoque excedente não vá para o online, e sim para canais offline, e de preferência em regiões afastadas das grandes cidades para não competir com a coleção nova,” disse ele. “Com a nossa plataforma ela pode colocar esses parâmetros e vender apenas para compradores com essas características.”

Antes da BackChannel, essas marcas acabavam vendendo o estoque excedente em mercados como o Brás, sem nenhum controle sobre onde os produtos iam parar.

Outro benefício, segundo o fundador, é que o algoritmo da BackChannel dá a precificação ideal para o estoque, gerando um ganho de receita em relação à venda que as marcas faziam antes. 

Para tirar a ideia do papel, a BackChannel levantou em outubro uma rodada de R$ 17 milhões liderada pela Cathay Latam, um VC americano que também é investidor da Ghost. A captação pré-seed também teve a participação da Positive Ventures, Norte Ventures, Latitud, Preface Ventures e Silence VC.

A capitalização vai bancar investimentos em tecnologia e os planos de expansão da startup, que hoje tem 30 sellers cadastrados (todos grandes marcas), com mais de 1,5 milhão de produtos listados, segundo a própria companhia. Do lado dos compradores são 50 lojistas, que passam por um filtro antes de serem admitidos à plataforma. 

A BackChannel ganha um take rate de 10% a 12% do valor das transações, além de um valor por operar toda a parte logística e que é pago pelo comprador. 

Freire não abre o GMV atual do marketplace, mas diz que vê um mercado endereçável de US$ 9 bilhões só no Brasil. Considerando a América Latina, o TAM sobe para US$ 24 bilhões.