Por mais talentoso e brilhante que seja, nenhum homem ou mulher será o salvador da Petrobras.
A empresa foi empurrada para a beira do default porque o partido no Poder a aparelhou para obter outros tipos de dividendos, num consórcio conveniente com gente acostumada a dar e receber dinheiro debaixo da mesa.
Assim, nenhum indicado fará o milagre da multiplicação dos ratings se não tiver liberdade de ação, o apoio de um conselho inteiramente novo (e onde, espera-se, o Governo tenha muito menos representantes), e um mandato claro de que ele trabalha para o acionista minoritário — para você, que viu seu fundo FGTS-Petrobras ir pelo ralo — e não para o Planalto.
Sem essas condições, podemos ficar aqui brincando de consertar “o que não tem conserto, nem nunca terá, o que não tem vergonha, nem nunca terá, o que não tem juízo.”
Abaixo, uma análise rápida das credenciais profissionais (e políticas) de alguns nomes cogitados para o assento mais nuclear do País.
ROGER AGNELLI — É muito difícil separar os méritos da gestão Agnelli na Vale do empurrão que ele recebeu do superciclo das commodities. Como Lula, Agnelli é um cara de sorte. Trabalhando com o minério acima de 100 dólares por tonelada, Agnelli diversificou a Vale e fez a alegria dos bancos de investimentos com uma pletora de aquisições nos quatro cantos do planeta. O homem tem a ambição de que a Vale precisa.
Além disso, é uma cria do Bradesco, o banco que teve o, digamos, espírito cívico de ceder Joaquim Levy para os “Jogos Vorazes” do ajuste fiscal. É tentador ver Agnelli como mais um tributo do distrito 12, mas talvez Levy tenha outra Katniss Everdeen em mente: Eduarda La Rocque, ex-secretária de fazenda do município do Rio de Janeiro.
Contra: Tem uma personalidade difícil e se desgastou com Dilma em sua saída da Vale, quando o Planalto se irritou com um corte de pessoal.
HENRIQUE MEIRELLES — Pau para toda obra da era Lula-Dilma (mais Lula do que Dilma), Meirelles é o nome de peso que cabe em qualquer lacuna relevante. Falta um bom quadro para a Fazenda? “Chama o Meirelles.” Precisamos de um presidente do conselho da Petrobras ? “Que tal o Meirelles?” Não se encontra alguém com coragem de assumir a Petrobras? “E se o Meirelles…?”
Hoje preside o conselho da J&F, a holding pela qual a famíia Batista controla a JBS, uma campeã nacional forjada com o apoio do BNDES e da Caixa.
Contra: Tem um fantástico histórico de liderar coisas que funcionam, mas nenhuma experiência em turnarounds.
NILDEMAR SECCHES — Um quadro impoluto da burocracia paraestatal e exímio articulador político, Secches tem em seu currículo a histórica recuperação da Perdigão , transformando-a de empresa familiar falida em corporação de escala global.
Respeitado entre empresários e fundos de pensão, tem em seu DNA os bons gens do antigo BNDES, aquele que ainda se guiava apenas e tão somente por critérios técnicos. Seria considerado altamante palatável pelo mercado.
Contra: Não deve querer arriscar seu legado.
MURILO FERREIRA — Dilmista de carteirinha, o CEO da Vale tem outro atributo que pode ajudá-lo na tarefa sobrehumana de reinventar a Petrobras: sua discrição brutal.
No momento, luta com as mãos amarradas nas costas. Com o minério de ferro a preço de banana, faz uma gestão ‘less is more’ na Vale, sobre a qual ainda é cedo para dar um veredito.
Contra: Seu histórico como CEO ainda é recente, mas a escolha de Graça Foster prova que a confiança do Planalto é — a menos que haja uma mudança de paradigma — o quesito número 1.