Os riscos fiscal e inflacionário — por mais verdadeiros que sejam — estão ofuscando a grande oportunidade de compra que o mercado brasileiro apresenta hoje, disse a casa de research independente americana 22V.

Num relatório publicado hoje, a 22V diz que o Brasil está no epicentro de uma poderosa reorganização global, pois se beneficia das mudanças impostas pelo tarifaço do Governo Trump e deve ser protagonista de uma segunda onda de investimento em IA.

O autor do relatório, Jordi Visser, viveu no País nos anos 90 quando trabalhava no Morgan Stanley.

Visser lembra que o Brasil está desdolarizando transações com a China e com os BRICS, algo que todos os países almejam fazer após os EUA mudarem as regras do jogo.

Observando correlações históricas, Visser nota que uma queda de 1% no Dollar Index (DXY) historicamente se traduz em uma alta de mais de 4% do MSCI Brazil e em uma valorização de mais de 2,5% de moedas emergentes high yield como o real. 

“Embora a sustentabilidade fiscal continue sendo uma preocupação, períodos de desvalorização do dólar têm apoiado a recuperação fiscal do Brasil, impulsionando a entrada de capital, comprimindo a inflação importada e melhorando a capacidade de pagamento da dívida.”

Outro pilar da tese bullish da 22V é o que ela vê como o posicionamento privilegiado do País para surfar uma segunda onda de investimento em IA — que deve ser focada em hardware e ter uso intensivo de capital e energia.

Esse novo ciclo está impulsionando um novo superciclo de commodities centrado em produtos que o Brasil possui em abundância, como o lítio, níquel, cobre, grafite e terras raras, disse a 22V.

A dominância das fontes renováveis na matriz energética brasileira também é um fator positivo, já que a previsão é que os data centers tenham um consumo energético cada vez maior.

“Isso torna o Brasil um dos países mais atraentes para a construção de infraestrutura de IA. A Microsoft e outras empresas estão construindo ou expandindo no Brasil, apoiadas por incentivos fiscais e custos de energia favoráveis,” disse Visser.

O estrategista argumenta que o posicionamento do Brasil é especialmente animador porque o País tem fortes laços comerciais com a China e EUA. Assim, não está no meio do conflito entre as superpotências, e sim se beneficiando de ambos os lados. 

Diante deste cenário e do desconto nos ativos locais — com indicadores técnicos em níveis deprimidos — o analista vê espaço para que a tendência positiva das últimas semanas se fortaleça.

“Este não é um trade de inflação, e sim um de mudança de regime macro. Em um mundo de repressão fiscal, gargalos em hardware de IA e escassez de energia verde, o Brasil tem o que a próxima década exige: materiais, energia, estabilidade e yield,” disse.

A 22V recomenda a compra do real contra o dólar ou a compra de uma cesta de moedas emergentes com overweight em Brasil; o posicionamento no EWZ ou direto na bolsa brasileira via bancos, utilities e infraestrutura; e a compra de títulos locais atrelados à inflação contra títulos de economias desenvolvidas.