Para um alface ir da fazenda até a cozinha de um pequeno restaurante ele passa por quatro intermediários diferentes, desde o chamado ‘agregador’ (que vai de fazenda em fazenda recolhendo as verduras) até o vendedor da barraquinha no CEASA — e, a cada um deles, vai ficando mais caro… e mais murcho.
Agora, uma startup está tentando simplificar essa cadeia analógica, usando tecnologia para digitalizar o pequeno agricultor e conectá-lo diretamente com os restaurantes.
A Frexco já opera com uma rede de 70 pequenos produtores rurais e vende para mais de 500 restaurantes de São Paulo. Ela também atende o consumidor final, uma vertical criada recentemente no meio da pandemia.
À primeira vista, a Frexco parece uma distribuidora padrão: ela compra as verduras desses produtores, coloca o ‘markup’ e depois revende para os restaurantes ganhando sua margem.
Mas o pulo do alface está na tecnologia por trás dos processos.
“Além da desintermediação e do efeito de rede que isso gera, o uso de tecnologia aumenta a eficiência operacional: conseguimos prever a demanda usando machine learning e usar inteligência artificial para criar a melhor rota de entrega,” diz o cofundador da Frexco, Eduardo Pietraroia. “Transformamos tudo em dados, do ‘shelf life’ do alface e do mamão até o percurso dos caminhões.”
O resultado é uma redução de 30% a 40% no preço de venda das verduras, em comparação com o que os restaurantes pagam a distribuidores que compram no CEASA. Além disso, há uma diminuição brutal do desperdício: a perda de produtos na cadeia de hortifruti gira em torno de 30%, na Frexco, não passa de 2%.
A ideia da Frexco surgiu em 2019 depois que o outro fundador, Mateus Erthal — na época um executivo da Unico (antiga Acesso Digital) —, viajou à China a convite da Endeavor. Lá, conheceu diversas startups que estavam digitalizando a cadeia de groceries e quis replicar o modelo no Brasil.
“Existem mais de 5 milhões de fazendas agrícolas no Brasil, mas ninguém estava olhando de verdade para essa cadeia e tentando inovar,” diz ele.
Os principais benchmarks da Frexco são a chinesa Meicai, que já vale mais de US$ 7 bilhões e faz exatamente a mesma coisa; e a indiana Ninjacart, que levantou US$ 200 milhões em cinco rodadas, a última delas com o Walmart e a Flipkart.
Desde que surgiu, a Frexco levantou apenas R$ 3,5 milhões com investidores como Rafael Duton, o cofundador da Movile, dona do iFood, Guilherme Weege, fundador da Malwee, Pedro Rudge, da Leblon Equities, e Tiago Lafer.
Agora, a startup está se preparando para uma nova rodada com fundos de VC prevista para o segundo semestre deste ano. A meta é levantar entre R$ 7 milhões e R$ 10 milhões.
Logo no primeiro ano, a Frexco teve que enfrentar forte turbulência. Como depende da demanda de pequenos restaurantes, a pandemia acertou em cheio seu modelo de negócios, obrigando a startup a entrar no B2C.
Em 2020, a receita foi de R$ 2,4 milhões e a previsão para este ano é chegar a R$ 9 mi. Em abril, a startup faturou R$ 500 mil.
Eduardo — que trabalhou seis anos com private equity na Angra Partners e no family office de Carlos Sanchez, o controlador da EMS — diz que a Frexco opera com margem bruta positiva, mas ainda queima caixa por ter uma estrutura “maior do que a empresa suporta.”
“Estamos levantando dinheiro justamente para custear esses investimentos altos em tecnologia e dados.”