BELÉM – “Se esta conversa fosse há cinco anos, eu falaria de sustentabilidade. Hoje falo de segurança.” 

A frase de Anita McBain, diretora do Citi Research, resume uma mudança estrutural na agenda global de investimentos.

O banco identifica 2025 como o ponto de inflexão em que o discurso sobre “salvar o mundo” dá lugar à busca por resiliência e segurança — de cadeias produtivas, ativos e dados — com impacto direto sobre alocação, valuations e disclosure.

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Essa virada ocorre em um momento em que os temas da resiliência climática e do financiamento climático dominam o debate internacional. Ambos estão no centro da COP30, aqui em Belém. 

Na cúpula de líderes realizada dias antes da conferência, o secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou o tom de urgência. “O cenário energético global está mudando em velocidade relâmpago. A revolução das renováveis já está aqui, mas precisamos avançar muito mais rápido — e garantir que todos os países compartilhem os benefícios,” disse. 

O Citi formaliza essa nova perspectiva no relatório 2025 Pivot into Security, Resilience and Defence, que consolida quatro anos de pesquisa com investidores. O documento projeta uma reorganização global das teses de investimento em torno da segurança sistêmica — o eixo central da próxima década.

De acordo com o Citi, essa nova agenda estará ancorada em adaptação e mitigação climática, segurança energética, minerais críticos, segurança alimentar, segurança hídrica, infraestrutura resiliente, economia digital e defesa. 

O relatório destaca que, só em 2024, cerca de US$ 2 trilhões foram investidos globalmente em tecnologias limpas, enquanto a disputa geopolítica redefine o mapa da transição energética.

Os minerais críticos, antes tratados como insumos industriais, passam a ser considerados ativos de segurança nacional, fundamentais para a transição energética e para os sistemas de defesa.

Já a infraestrutura resiliente torna-se o alicerce para garantir o funcionamento dos sistemas de alimentos, energia, água e transporte em meio a estresse térmico, escassez e enchentes. 

 

O relatório também amplia o escopo do investimento sustentável ao incluir a economia digital, com foco em cibersegurança, guerra eletrônica e tecnologia espacial como novo domínio econômico e militar.

Por último, mas não menos importante, segundo McBain, há que se considerar a comunicação. A linguagem da sustentabilidade precisa ser substituída por um vocabulário “sem emoção e sem ambiguidade,” disse ela. 

O foco agora é tangível: eventos climáticos extremos, vulnerabilidades cibernéticas e insegurança alimentar e hídrica tornaram-se riscos materiais para a economia real. 

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Para McBain, não há mais espaço para ambiguidades. A incerteza não está mais na falta de dados, mas na falta de clareza sobre os objetivos. “Temos dados suficientes para agir. Geoespacial, drones e inteligência artificial nos permitem ver em tempo real o que acontece com os ecossistemas e as cadeias. O problema não é a falta de informação, é a falta de clareza sobre o objetivo,” disse.

Por sorte, a relação entre ambiguidade e informação é direta: quanto mais vaga a comunicação, menor o conteúdo informacional que ela entrega. Esse coeficiente pode, inclusive, ser calculado matematicamente por meio de um logaritmo, como descrito por Umberto Eco em Obra Aberta, um clássico da Teoria da Informação: 

-log(½) = log²  

Quando as empresas passam a medir riscos com precisão — e a traduzir impactos físicos em consequências financeiras —, a quantidade de informação aumenta, reduz a incerteza e melhora a capacidade de decisão. 

O relatório do Citi prevê a próxima fase do investimento sustentável como uma corrida por segurança sistêmica, em que resiliência climática, energética e digital passam a ser determinantes de competitividade e de valor econômico.

Para o banco, essa é a evolução natural do ESG: sair do campo da ética para o da eficiência. A tese é que o mercado valorizará as companhias capazes de provar resiliência operacional e segurança estrutural, não apenas propósito. “A interseção entre estratégia e valor é o novo Santo Graal,” disse McBain.

Agora, o desafio não é mais parecer sustentável. É demonstrar que o negócio resiste — e cresce — em um mundo menos previsível.