Num dos maiores M&A do ano, a Klabin está pagando US$ 1,160 bilhão por terras e madeira em pé que pertenciam à Arauco — antecipando um capex que teria que fazer nos próximos seis anos e ganhando opcionalidades que podem gerar um valor relevante para a companhia.
A transação – depois de mais de um ano de conversas entre a companhia brasileira e a chilena – envolve 150 mil hectares, dos quais 85 mil são produtivos, além de 31,5 milhões de toneladas de madeira. As terras estão localizadas no Paraná, uma das regiões mais produtivas do mundo por conta de seu solo e clima.
Do valor total da aquisição — R$ 5,8 bilhões ao câmbio de R$ 5 — cerca de R$ 3 bilhões são atribuídos à madeira em pé, usando como base os preços atuais de mercado. Os R$ 2,8 bilhões restantes são a terra, o que implica um preço de R$ 33 mil por hectare, abaixo do preço médio praticado hoje no Paraná.
Segundo dados da FNP Consultoria, o preço médio da terra no Paraná foi de R$ 72 mil por hectare no ano passado, depois de ter ficado em R$ 50 mil/hectare em 2021 e em R$ 36 mil/hectare no ano anterior.
A madeira adquirida está numa área adjacente ao Puma II – o complexo industrial que a Klabin inaugurou no Paraná em 2021 e demandou investimentos de quase R$ 13 bilhões – e será usada ao longo dos próximos seis anos para abastecer suas fábricas.
“Quando fizemos Puma II, optamos por uma estratégia diferente do que normalmente acontece no setor de papel e celulose, que é ficar anos investindo em terras e florestas e, quando a floresta já tiver crescido, só então construir a fábrica,” o CEO Cristiano Teixeira disse ao Brazil Journal.
“A gente inverteu a ordem. Fizemos a fábrica e concomitantemente compramos terra e plantamos para abastecer o segundo ciclo de madeira. O primeiro ciclo – sete anos para o eucalipto e 15 para o pinus – será alimentado com madeira comprada de terceiros.”
Há poucos dias, a Klabin disse em seu Investor Day que a compra dessa madeira para o primeiro ciclo demandaria um capex de cerca de R$ 1 bilhão/ano ao longo de seis anos – quase o mesmo valor da aquisição que acaba de ser anunciada – o que rendeu dois downgrades de analistas na ação.
A transação de hoje, no entanto, deve gerar valor para a companhia de algumas formas. Além de antecipar o capex futuro, a Klabin terá cerca de 60 mil hectares de terras produtivas excedentes que poderão ser monetizadas. (A companhia sempre busca operar com um nível de autossuficiência máximo de 75%.)
Considerando o preço atual de mercado, essas terras excedentes valeriam entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, nas contas da Klabin.
A companhia também disse que espera capturar sinergias operacionais — principalmente na colheita e na logística, dada a maior proximidade das florestas com Puma II — de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões por ano entre 2025 e 2028.
Tudo isso somado geraria um valor presente líquido de R$ 2 bilhões para a companhia. “Na prática estamos reduzindo em R$ 2 bi os gastos da companhia e trazendo mais segurança para a operação, porque não ficamos mais sujeitos às oscilações do preço da madeira,” disse o CFO Marcos Ivo.
A Klabin espera que o payback do projeto ocorra em menos de seis anos, com uma TIR real desalavancada de cerca de 13%.
Essa TIR pode ser ainda maior caso a Klabin decida vender uma participação minoritária do negócio para alguma TIMO (Timber Investment Management Organization) — basicamente, veículos criados por investidores institucionais para investir em florestas.
A Klabin tem feito isso em projetos recentes de florestas, e esta “é uma possibilidade que temos estudado também para esse projeto,” disse o CEO.
Naturalmente, a transação terá um impacto relevante na alavancagem da Klabin, que fechou o terceiro tri em 3,2x EBITDA. O desembolso para a aquisição virá de recursos que a empresa já tem em caixa e deve aumentar a alavancagem para algo ao redor de 4x, ainda dentro do limite estipulado pelo estatuto da companhia, de entre 2,5x e 4,5x EBITDA.
“No segundo ano pós-aquisição, a alavancagem já volta a cair, porque a redução do capex vai melhorar o fluxo de caixa e aumentar o EBITDA,” disse o CFO.
Ele notou ainda que mesmo com o desembolso a Klabin vai continuar com uma liquidez robusta. A companhia — que levantou R$ 3 bilhões no mercado de crédito recentemente — vai continuar com R$ 5,8 bilhões em caixa, o suficiente para cobrir as amortizações dos próximos três anos.
A Klabin fechou o dia valendo R$ 24 bilhões na Bolsa.
O Itaú BBA foi o adviser conjunto das duas companhias na transação.
O Bank of America também assessorou a Klabin, que trabalhou com o BMA Advogados.
O Veirano Advogados foi o assessor jurídico da Arauco.