A rodada de capital anunciada ontem pelo C6 Bank está longe de ser uma capitalização tradicional, dessas que atraem grandes nomes do venture capital e ajudam a criar um histórico de valuation rumo a um IPO.
 
Na verdade, o R$ 1,3 bilhão captados pelo C6 são uma operação de renda fixa: um instrumento de dívida conversível em ações com prazo de dois anos emitido pela holding Carbon, que controla o banco, e não pelo próprio C6.
 
A operação, estruturada pelo Credit Suisse e vendida a cerca de 40 clientes do private, paga CDI mais 6,5% ao ano, é garantida pela carteira de crédito consignado do C6 e pelas ações do próprio banco fundado por Marcelo Kalim, segundo clientes do Credit Suisse com acesso ao material de vendas.
 
Ontem, ao anunciar a transação, o C6 disse ter sido avaliado em R$ 11,3 bilhões — gerando comparações com o valor de mercado de concorrentes como o Inter (R$ 19 bi) e o Banco Pan (R$ 12 bi).
 
Mas esse valuation do C6 é apenas indicativo, um valor de referência para marcar o preço que o C6 espera conseguir no seu IPO.  
 
A operação contém um ‘equity kicker’:  se o C6 fizer um IPO abaixo do valuation indicativo, o detentor das notas receberá um retorno mínimo de 33% sobre o valor investido.  Se o IPO sair acima, o detentor das notas participa do upside.
 
“Essa é uma operação cássica de private bank em que você diz ao cliente que ele tem o upside e está protegido no downside, mas esse discurso minimiza o risco de solvência,” diz o tesoureiro de outro banco. 
 
No mercado de dívida ‘clean’, o C6 está disposto a pagar CDI + 9,38% num CDB pré-fixado de quatro anos e CDI + 9,98% num CDB de 5 anos, segundo uma oferta feita na Black Friday aos clientes da XP.
 
As notas estruturadas foram oferecidas sob a regra 476 da CVM, que restringe a 75 o número de clientes que podem ser procurados e a 50 o número de investidores alocados. 
 
Este é o segundo levantamento de capital feito pelo C6 este ano.
 
Em julho, o banco emitiu R$ 525 milhões em debêntures conversíveis que teriam sido compradas pelo Bradesco, dando ao banco da Cidade de Deus 15% do C6 — esta sim, uma operação de equity clássica, pois o valuation de R$ 3,5 bi foi previamente combinado. 
 
No processo de venda das notas e no material de vendas, o C6 disse aos potenciais compradores que o Bradesco fez um aporte no banco. O Bradesco sempre negou.