A Equatorial acaba de vender um ativo de transmissão num movimento de reciclagem de capital para a holding de energia.
A venda da Intesa saiu por um enterprise value de até R$ 714 milhões – considerando a dívida líquida de R$ 318 milhões – e o comprador foi o fundo de pensão canadense CDPQ, que explicou o racional da transação como parte de sua estratégia de descarbonização.
Comprada pela Equatorial em 2016, a Intesa opera linhas de transmissão com 695 quilômetros de extensão nos estados de Goiás e Tocantins e tem uma receita anual permitida (RAP) de cerca de R$ 190 milhões. A concessão, no entanto, já entrou na fase de redução da RAP, que deve cair pela metade nos próximos ciclos regulatórios. A concessão vence em 2036.
A transação é pequena para o tamanho da Equatorial — que vale R$ 36 bilhões na Bolsa — mas vai gerar um retorno robusto.
O equity value da transação será pago em duas parcelas: R$ 319 milhões no fechamento, e o restante na forma de um earnout que vai depender de métricas de desempenho.
A compra é o segundo investimento recente do CDPQ numa linha de transmissão brasileira. Em maio do ano passado, o fundo comprou ativos da Terna que ligam o Brasil ao Uruguai, e em seguida criou uma holding chamada Verene Energia.
O retorno da venda foi extremamente atrativo para a Equatorial. Nas contas do Citi, a transação implica uma TIR real de 7,5% para o comprador e um múltiplo EV/EBITDA de 7,5x.
Para efeito de comparação, a própria Equatorial negocia a uma TIR de mais de 11% na Bolsa, e a um múltiplo EV/EBITDA de mais de 9x.
Um analista do buyside chegou num número ainda mais agressivo: uma TIR real de apenas 5%. “Minha sensação é que nesse mesmo nível de retorno a Equatorial venderia o portfólio inteiro,” disse ele.
Ele lembrou que a Intesa foi o primeiro ativo operacional que a Equatorial comprou quando estava entrando no segmento de transmissão, e como uma forma de reduzir os impostos das concessões que ela havia ganho e teria que construir.
“Foi uma forma de ter um ativo operacional para conseguir levantar dívida para as construções com um custo menor e colocar um pedaço da dívida lá dentro, gerando um benefício fiscal,” disse o analista. “Mas conforme os ativos foram ficando prontos, ele deixou de ter esse uso e virou apenas um ativo operacional com um retorno menor que o portfólio.”
A Intesa era pequena mesmo dentro da vertical de transmissão da Equatorial — que hoje tem uma RAP de cerca de R$ 1,2 bilhão e um EV de cerca de R$ 10 bi, nas contas de um analista.
A venda vem num momento em que a Equatorial tem levantado recursos para melhorar sua estrutura de capital depois da compra da Celg-D em setembro do ano passado, quando ela pagou R$ 1,5 bilhão pelo ativo.
Na época do leilão, o plano da Equatorial era fazer um follow-on para bancar a compra — que a companhia achou que sairia muito mais cara.
Ao conseguir comprar mais barato do imaginava, a Equatorial decidiu não fazer o follow-on e sim buscar outras formas de levantar recursos.
A venda de hoje faz parte desse movimento. A Equatorial também fez uma operação estruturada com o Itaú em março, com o banco aportando R$ 2 bilhões em troca de 20% da Equatorial Distribuidora, e decidiu não pagar dividendos recentemente.
“Eles deram uma aula,” disse um analista que cobre a empresa no sellside. “Foi uma estratégia muito inteligente e muito boa para os acionistas.”
O BTG Pactual assessorou a Equatorial na venda, que teve a assessoria jurídica da Stocche Forbes.