Ao contrário do que o mercado imagina, a Eneva não está sozinha na disputa pelo Polo de Urucu, a gigantesca reserva de gás natural no Amazonas que pertence à Petrobras.
A estatal também recebeu ofertas da 3R Petroleum e da Imetame.
O envolvimento das duas empresas deve surpreender o mercado porque, no caso da 3R, muitos investidores acreditam que a empresa estaria mais focada na compra do Polo Potiguar, uma estação de tratamento de petróleo que processa o óleo do Polo de Macau, adquirido pela empresa no ano passado.
A 3R, no entanto, tem uma estratégia de aumentar a participação de gás em seu portfólio como forma de reduzir a volatilidade de seu negócio. Hoje, o gás representa 15% da produção da empresa e um terço das reservas.
Já a Imetame — pouco conhecida na Faria Lima mas um nome com história no mercado de petróleo — é um grupo familiar capixaba que opera uma termelétrica em Camaçari e produz petróleo e gás nas bacias Potiguar, do Recôncavo e Espírito Santo. (A Imetame inclusive já foi dona de blocos na bacia do Parnaíba, que hoje pertencem à Eneva).
A ação da Eneva tem tido um rali ao longo do último mês, com o mercado começando a precificar a compra de Urucu. Entre ontem e hoje, a ação da Eneva subiu mais de 6% com a informação de que a companhia estaria perto de fechar a transação. A Eneva vale R$ 19 bilhões na B3.
Uma fonte próxima à disputa disse ao Brazil Journal que “ainda há um longo percurso” até a venda ser decidida. O contrato não envolve apenas um preço pela reserva de gás e as regras da concorrência estabelecem a possibilidade de uma nova rodada — ainda que não esteja claro se esta envolveria os três concorrentes ou apenas as duas melhores ofertas.
Apesar do rali, as estimativas do valor de Urucu são no mínimo controversas.
Alguns gestores tentam estimar o valor fazendo uma regra de três com os números da compra de Azulão. Naquele caso, a Eneva pagou US$ 55 milhões por uma reserva de 3,4 bilhões de metros cúbicos de gás (bcm). Como Urucu tem uma reserva de gás estimada em 30 bcm, o valor poderia ser de cerca US$ 500 milhões. Somando-se a isso um valor estimado de US$ 400 milhões pelo óleo de Urucu, o valor total do polo poderia chegar a US$ 900 mi (quase R$ 5 bilhões).
Muitos investidores comprados na Eneva questionam a capacidade financeira da 3R num projeto desta monta, mas a empresa tem o Starboard como seu maior acionista e poderia financiar uma eventual vitória com um misto de aumento de capital e project finance.
A compra de Urucu é particularmente estratégica para a Eneva porque permitiria à empresa dobrar o tamanho de suas reservas de gás, hoje em torno de 27 bcm somando os campos de Parnaíba e Azulão.
O Polo de Urucu produz hoje cerca de 15 milhões de metros cúbicos de gás por dia, mas como o gasoduto consegue transportar apenas 5,5 milhões/dia, o excedente está sendo reinjetado.
O movimento mais óbvio para a Eneva seria aumentar a capacidade do gasoduto instalando compressores, mas o jogo teria que ser combinado com a TAG, que é quem opera o gasoduto.
A Eneva também poderia monetizar o excedente fazendo a liquefação do gás, colocando-o dentro de cilindros e transportando em caminhões ou barcas para pequenas termelétricas que seriam construídas nas proximidades — um modelo já adotado no campo de Azulão.