A ação da Eneva chegou a cair mais de 10% esta manhã depois que o Ministério de Minas e Energia publicou uma portaria com regras para um leilão de capacidade para térmicas e hidrelétricas — com uma redação que contempla a Petrobras e a Âmbar Energia e, na prática, deixa a Eneva fora do certame. 

Por volta das 13h, a queda do papel era de cerca de 7%. A Eneva agora vale R$ 18,8 bilhões na B3.

A portaria do leilão permite a contratação das térmicas existentes para os anos de 2025, 2026 e 2027. Para os anos de 2028, 2029 e 2030, a regra diz que apenas as térmicas novas podem se habilitar.

A redação é ruim para a Eneva porque seus dois ativos a serem renovados — Parnaíba 1 e Parnaíba 3 — encerram seus contratos no final de 2027. Como o leilão para 2027 prevê o início do suprimento em junho, ela não poderia participar do leilão. As duas usinas têm 800 MW de capacidade instalada.

A maior beneficiária será a Petrobras, que tem boa parte de suas usinas — equivalentes a 4 GW de capacidade — com contratos vencendo em prazos que permitem que ela participe do leilão.

A Âmbar, dos irmãos Batista, também poderá participar do leilão com ativos importantes de seu portfólio. 

Hoje, o controlador de fato da Eneva é o BTG Pactual, que tem mais de 48% do capital da empresa depois que André Esteves resolveu transformar a empresa em sua plataforma de negócios no setor elétrico no ano passado. 

No mercado, a forma como a portaria foi feita causou estranheza, e muita gente do setor interpretou a redação da portaria como uma retaliação ao BTG. 

“É no mínimo curioso o Governo fazer um leilão de capacidade onde uma usina com a importância que  Parnaíba tem para o sistema seja excluída,” disse um executivo do setor. 

“Preferir contratar energia nova e não utilizar térmicas existentes não faz sentido em nenhum lugar do mundo,” disse um investidor comprado no papel. 

A exclusão de Parnaíba dos leilões de 2028 em diante também chama atenção porque dificilmente alguém conseguiria construir uma usina nova em três anos. Com o mercado de gás aquecido em todo mundo, há uma escassez dos equipamentos necessários para a construção de novas térmicas.

 A Eneva agora tem duas alternativas: contestar os termos da portaria na consulta pública que começa agora, esperando que o Ministério de Minas e Energia altere os termos; ou esperar que o Governo decida fazer um outro leilão no futuro. 

Caso contrário, a companhia ficaria com duas de suas principais usinas descontratadas, o que geraria um impacto relevante em seus resultados. 

Nos leilões de capacidade, o Governo se compromete a pagar um valor fixo às termelétricas e hidrelétricas mesmo quando elas não estão gerando energia, ativando-as nos momentos de emergência e crise energética. Em outras palavras, ao ficar descontratada, a Eneva perderia uma receita recorrente relevante.

Nas contas do próprio BTG, se os ativos da Eneva de fato não forem renovados, o impacto no net present value (NPV) da companhia seria ao redor de 15%, já que todo o mercado considera a renovação como o cenário-base.