A Energisa acaba de anunciar que está comprando a Clarke Energia, uma startup que atua no mercado de gestão de energia intermediando a compra e venda de megawatts para empresas que operam na média e alta tensão.

O valor da aquisição não foi revelado, mas a Energisa disse que comprou 70% da Clarke, com os fundadores ficando com os 30% restantes. boopo pedro rio

Os vendedores foram fundos de venture capital que investiram na Clarke no início da operação, incluindo a Canary, a Niu Ventures, a CSN Ventures e a EDP Ventures. 

A transação foi estruturada com uma secundária – que limpou o cap table – e uma primária que injetou recursos no caixa para ajudar a empresa a crescer. 

O modelo de gestão de energia já existe há décadas no Brasil, mas a Clarke inovou ao levar este mercado do analógico para o digital. O co-fundador da Clarke, Pedro Rio, disse ao Brazil Journal que a atuação de um gestor de energia é como se fosse “a mistura de um corretor com um contador.” 

“A primeira etapa é ajudar o consumidor a comprar a energia no mercado livre, e para isso fazemos uma concorrência para ele. Depois passamos a atuar como o gestor da energia dele, fazendo relatórios, acompanhando os custos e vendo oportunidades de reduzir esses custos,” disse ele. 

A Clarke já tem 300 clientes ativos, incluindo empresas como a Mobly, Le Cordon Bleu e o Clube de Regatas Flamengo, que consomem juntos cerca de 200 GWh de energia por ano. Na outra ponta, ela opera com 60 fornecedores de energia diferentes, incluindo a própria Energisa. 

Roberta Godoi, a vp de soluções energéticas da Energisa, disse que a ideia com a aquisição é manter o modelo de marketplace, sem que a Energisa tenha qualquer privilégio na plataforma. 

“A Clarke precisa ter isonomia com seus fornecedores para oferecer a melhor opção ao cliente. Não vamos mudar isso. Tanto que as empresas vão se manter separadas, com autonomia nas tomadas de decisão,” disse ela. 

O investimento na Clarke é uma aposta da Energisa na abertura do mercado livre de energia — que já começou a acontecer. Até pouco tempo, só podiam comprar energia no mercado livre empresas de média e alta tensão que consumiam mais de 500 KWh por ano. A partir de janeiro, o mercado foi aberto para todas as empresas de média e alta tensão, mesmo as que consomem menos do que isso. 

A expectativa entre os players do setor é que o mercado seja aberto também para o consumidor de baixa tensão (pequenos comércios e residências) nos próximos anos, o que vai incluir 84 milhões de novos potenciais clientes. 

O PL 414 — em tramitação no Congresso — prevê que o mercado livre seja liberado para empresas de baixa tensão em 2026 e para as residências dois anos depois. 

Para Pedro, o modelo de gestor de energia deve ser o preponderante nessa abertura de mercado. 

“Temos vários dados que mostram que comprar de um fornecedor X sem a Clarke é mais caro do que comprar com a Clarke, mesmo considerando a comissão que a gente cobra,” disse ele. “Isso acontece porque automatizamos tanto o sistema que conseguimos cobrar pouco e gerar competição, o que reduz os preços.”

Segundo ele, o gestor de energia tradicional, analógico, fazia as cotações de preço de energia por email ou Whatsapp.

“A gente tem integrações via API com alguns fornecedores, e outros colocam os dados digitalmente na nossa plataforma,” disse ele. 

Com o investimento da Energisa, o plano da Clarke é chegar a 700 clientes no final do ano e a 2 mil no final de 2025. 

Em quatro anos, a meta é chegar a 20 mil unidades consumidoras, atingindo cerca de 10% do mercado total de empresas que hoje podem comprar no mercado livre.