O CEO da Suzano, Walter Schalka, está exortando os candidatos de centro a se unirem em torno de uma só candidatura de forma a quebrar a polarização do quadro eleitoral — e colocar um representante legítimo da agenda de reformas no segundo turno.
 
Numa entrevista ao Valor, falando em nome pessoal, Schalka disse que nenhuma das duas candidaturas à frente nas pesquisas “está conseguindo explicitar as reformas de que o país precisa. Ambas se comportam de forma eleitoreira e populista. Porque é nítido que o Brasil vai ter que fazer reforma previdenciária e nenhum dos dois fala nisso.  É nítido que o Brasil vai ter que fazer cortes de despesas e cortes de subsídios, de ‘direitos’ que foram dados, inclusive para os empresários.” 
 
Schalka disse que estava falando diretamente aos “executivos e acionistas de empresas, de um lado, e, a classe política, de outro.”  
 
“Essa fragmentação que tivemos do centro, com [Geraldo] Alckmin, [Henrique] Meirelles, Alvaro Dias, [João] Amoêdo e Marina Silva leva a que os extremos prevaleçam. É preciso que haja uma desistência de quatro dos cinco,” disse Schalka, para quem o empresariado “se omitiu ao longo da história e está se omitindo neste momento mais uma vez.”
 
Schalka não está sozinho.  Suas opiniões ecoam a de outros membros do movimento Você Muda o Brasil, que inclui o chairman da MRV, Rubens Menin; o CEO da GOL, Paulo Kakinoff; a controladora do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano; o chairman da Ultrapar, Pedro Wongtschowski; Jefferson de Paula, CEO da ArcelorMittal; e o CEO da Localiza, Eugenio Mattar.
 
Na visão deste grupo, os programas dos cinco candidatos tem índice de convergência de até 90% e poderia ser a base para que os cinco se juntassem e tentassem reverter o quadro de polarização antes do segundo turno.
 
As declarações de Schalka — dadas na sexta-feira e publicadas hoje no jornal impresso — vêm no mesmo dia que uma pesquisa do BTG Pactual/FSB mostra uma estabilização de Jair Bolsonaro em 31% e um crescimento de Fernando Haddad de 12% para 17%.  Nesta pesquisa, 21% das pessoas responderam que ainda não sabem em quem votar.
 

Schalka também falou sobre os candidatos.

“O Alckmin é uma pessoa extremamente séria, mas está num partido em frangalhos. Ele seria um excelente presidente, mas por causa do partido é um péssimo candidato. O partido está se esfacelando porque é uma decepção para as pessoas que votaram no PSDB acreditando que o partido era absolutamente diferente do PT. O Alvaro Dias é um ótimo senador, mas não tem visibilidade eleitoral no Brasil. A Marina Silva é íntegra e correta e com visões positivas, mas não tem base política e tem tendência a começar alto nas pesquisas pela credibilidade pessoal e reduzir ao longo do tempo. O Meirelles foi um ótimo ministro da Fazenda e um excelente presidente do Banco Central, tem capacidade. Mas tem um partido que em grande parte nem o apoia e tem a mácula de ter sido envolvido em eventos de corrupção. E tem o João Amoêdo, que é o meu voto, que tem um partido que pode ter futuro, mas ainda não tem peso político no Brasil.” 
 
Ecoando comentários feitos ao Brazil Journal pelo Governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, Schalka disse que “hoje há 30% em cada uma das pontas, que são os ‘antis’ e 40% no centro. Tem o grupo que é anti-Bolsonaro e o grupo que é anti-PT. E essa dicotomia já vivenciamos nas outras eleições, com o PSDB personificando o anti-PT. Essa situação vai gerar, pós eleição, qualquer que seja o vencedor, uma discussão ruim para o país. O perdedor vai questionar a eleição, o eleito, e vamos começar um novo governo em crise.”
 
O Valor perguntou se ele vê riscos à democracia.

“Inevitavelmente vamos ter questionamentos, se houve fraude, se o eleito tem credibilidade suficiente. E o pior de tudo é a divisão. Se pegar os votos do Bolsonaro e ver onde estão localizados em termos geográficos e de classe, e os votos do PT, são completamente diferentes. Na eleição entre Dilma e Aécio, era Nordeste versus Sul e Sudeste, pessoas que têm condições sociais diferentes de cada lado. Vamos agravar isso.”

 
Schalka admitiu que a união do campo reformista tem baixa viabilidade, mas disse que vai continuar insistindo na tese. 
 
“Nós brasileiros precisamos parar de brigar um contra o outro nas redes sociais. Hoje há divisões dentro das famílias, nas relações com amigos, e isso mostra quão sensível e tênue é a nossa situação. Todo mundo acha que tem uma solução mágica no Bolsonaro e no PT. Nenhuma das duas.”
 
Na semana passada, Menin, da MRV, disse ao Valor: “Para crescer não podemos ter um país dividido. Estamos vivendo um momento acusatório.”

“Não gosto de extremos. O que aconteceu aqui é que a esquerda ficou mais à esquerda e a direita mais à direita. Nunca vi um ambiente tão disperso. Como as empresas vão conseguir planejar o ano que vem? Quando você está num transatlântico não pode, de repente, virar 180 graus. Temos que mudar o país pela política. Não tem como ser diferente. Eu até me arrepio quando alguém fala em golpe militar. Essa pessoa não imagina o preço maluco que pagaríamos por isso. Mas tem gente falando isso.” 

 
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