Apesar da má fama de que gozam no Brasil, as empreiteiras brasileiras sempre tiveram um público fiel no mercado de dívida internacional, onde os investidores compram seus títulos atraídos pelo fluxo de caixa relativamente confiável dos seus projetos.

Até que, nos últimos dias, a Lava Jato começou a mudar isso.

De quarta-feira para cá, os títulos da dívida de empreiteiras e empresas de perfuração de petróleo controladas por elas despencaram, aumentando o custo de captação dessas empresas e deixando nervosos os investidores que detêm os papéis.

Os títulos ‘perpétuos’ da OAS (uma dívida sem vencimento) implodiram. Caíram de 89,5 centavos de dólar na quarta passada para 70 centavos ontem e 60 centavos hoje, fazendo com que o rendimento dos títulos chegasse a 27% ao ano — um nível de taxa similar ao dos títulos da Venezuela e que indica que a empresa perdeu o acesso ao mercado de capitais. Foi, de longe, a maior queda entre os títulos de empreiteiras (veja tabela abaixo).

Durante a tarde, a Moody’s reafirmou o rating da OAS mas disse que a perspectiva agora é negativa — ou seja, um downgrade pode estar a caminho. A Moody’s cortou o rating da Mendes Júnior e sinalizou que ela pode sofrer um novo corte.

As empresas de perfuração sofreram menos que a OAS porque, em geral, esses títulos foram emitidos para financiar navios-plataformas de exploração de petróleo, de forma que o pagamento dos juros dos títulos é “casado” com o aluguel que a Petrobras paga pelo navio.  Assim, o risco de inadimplência continua baixo.  No caso da OAS, os investidores estão expostos ao risco comercial da empresa, sem garantias.

A queda nos preços dos títulos também aumenta a tensão entre os bancos brasileiros, a maioria dos quais têm créditos contra as empreiteiras.

“O mercado está precificando que a Petrobras vai cancelar os contratos deles e que isso potencialmente vai fazer a alavancagem [o endividamento] explodir,” disse um corretor que trabalha no mercado de dívida. “A grande questão é se a Polícia e o Ministério Público vão atrás dos executivos e deixarão as empresas em paz — como aconteceu com o Banco BMG no caso do mensalão — ou se eles vão atrás das empresas também.”

Gabriel DeSanctis, editor-chefe da REDD, uma agência especializada no mercado de dívida e reestruturação de empresas, diz que “o mercado está precificando o ‘desconhecido conhecido'” mas que a coisa pode piorar. “Se as empresas de perfuração perderem contratos, algumas das mais alavancadas podem ter sérios problemas financeiros.”

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