A troca de ativos entre a Eletrobras e a Neoenergia, anunciada sexta-feira à noite, deve ajudar as duas companhias a simplificar suas estruturas corporativas e a otimizar seus portfólios – mas, na relação de troca, a Neoenergia parece ter levado a melhor. 

A transação envolve a transferência da participação de 51% que a Neoenergia tem em duas hidrelétricas (Teles Pires e Baguari) para a Eletrobras. 

Em contrapartida, a Eletrobras vai transferir para a Neoenergia a participação de 49% que detém na hidrelétrica Dardanelos e o stake de 0,04% que tem na Coelba e Cosern, duas distribuidoras, e na Afluente, uma linha de transmissão. 

Como os ativos de ambas as empresas foram avaliados exatamente no mesmo valor (R$ 788 milhões), a transação não vai demandar nenhum desembolso financeiro das partes.

“Acreditamos que a Neoenergia levou os melhores ativos pelo valuation mais barato, enquanto entregou à Eletrobras a participação mais problemática na Teles Pires a um valuation mais caro,” escreveram os analistas Henrique Peretti e Victor Burke, do JP Morgan. 

Segundo eles, a Dardanelos foi avaliada a 7,8x o EBITDA estimado para o ano que vem, um prêmio em relação ao múltiplo que a própria Neoenergia negocia hoje na Bolsa (5x). 

Já a Teles Pires e Baguari foram avaliadas a múltiplos ainda mais altos (10,3x e 8,1x, respectivamente), “sugerindo que a Neoenergia teve os melhores valuations relativos.”

O Santander também notou que a transação aumenta a exposição da Eletrobras aos déficits das hidrelétricas e aos preços de energia, já que Teles Pires tem uma parcela relevante de sua energia negociada no mercado livre. 

“Além disso, a Teles Pires tem R$ 227 milhões em contingências off balance sheet,” diz o relatório. “No lado positivo, no entanto, além da simplificação da estrutura corporativa, vemos a possibilidade de ganhos de créditos fiscais na Teles Pires e de um aumento na alavancagem da Baguari.”

A transação vai permitir às duas empresas consolidar os ativos no balanço da holding, passando a incorporar os resultados. Para a Neoenergia, isso deve gerar um aumento de R$ 250 milhões no EBITDA e uma leve redução na alavancagem. 

Para a Eletrobras, caso os dois ativos sejam consolidados no balanço, o impacto será de R$ 540 milhões no EBITDA e de R$ 2,8 bilhões na dívida líquida, aumentando a alavancagem da empresa em 0,1x o EBITDA de 2023, para 1,7x.  

O JP Morgan disse que a transação deixa a porta aberta para que a Eletrobras faça um movimento parecido em Belo Monte e Santo Antônio, consolidando as duas hidrelétricas no balanço da holding. 

O CEO da Neoenergia, Eduardo Capelastegui, disse na call com analistas logo após o anúncio que a empresa pretende continuar revendo seu portfólio. Segundo ele, há outros três ativos que podem ser vendidos para otimizar o portfólio e fortalecer o balanço da empresa. 

O primeiro é a venda ou desconsolidação de sua térmica, a Termopernambuco. O segundo é a venda de uma participação minoritária em seus ativos de transmissão, com a entrada de um player financeiro. Por fim, a empresa estuda vender sua participação de 10% na hidrelétrica de Belo Monte. 

O CEO disse que dos três ativos, o mais complexo é a venda de Belo Monte, que só deve acontecer em 2024. Os outros dois devem ser concluídos até junho de 2023. Ele disse ainda que a transação não significa que a Neoenergia está saindo do segmento de hidrelétricas, apenas focando em ativos mais estratégicos e saindo dos ativos onde não tem o controle.