A Tuesday Capital — uma casa de investimentos em equity fundada há um ano — acaba de chegar a 14,3% do capital da WDC, uma empresa B2B de infraestrutura de tecnologia que comercializa e aluga soluções, desde sistemas de monitoramento de rodovias a redes privativas de 5G, passando pela implementação de data centers.
A gestora de Adeodato Netto e Pedro Thompson comprou 10,2% da empresa num block trade que acaba de ser concluído.
A venda – que movimentou R$ 20 milhões – saiu a R$ 3,28 por ação, um prêmio de cerca de 7,8% em relação ao preço de tela e igual a média ponderada por volume dos últimos 180 dias. O papel cai 15% nos últimos doze meses e sobe 39% desde o início do ano.
A WDC vale pouco mais de R$ 200 milhões na Bolsa.
O vendedor foi a 2B Capital — um fundo de private equity que entrou na WDC em 2017 e tem Bradesco, Valia, Previ e Funcef como cotistas. Depois da venda, a 2B Capital ainda fica com cerca de 20% do capital da WDC.
A Tuesday Capital já havia comprado outros 4% antes, de um dos dois fundadores da empresa que não está mais na operação. O fundador principal é Vanderlei Rigatieri, que atua como CEO.
Adeodato, que fundou e depois vendeu a Eleven Research, disse ao Brazil Journal que acompanha a WDC há anos, primeiro como sellside, depois como banker, e por último como cliente.
“Na Eleven a gente cobriu o IPO deles em 2021. No Modal, eu tentei fazer algumas coisas com eles do ponto de vista de dívida. E quando assumi a presidência da Ligga Telecom virei cliente deles,” disse ele. “É uma empresa que tem muitas avenidas de crescimento, uma ótima gestão e está extremamente mal precificada.”
Em seu IPO, a WDC foi avaliada em R$ 1,5 bilhão. De lá para cá, no entanto, o papel derreteu, segundo Adeodato, sofrendo como toda a Bolsa com a alta dos juros e a migração da renda variável para a renda fixa.
Outro aspecto que tem prejudicado é o baixo float e liquidez. Hoje os fundadores têm 36% do capital; o Bradesco e o 2B Capital, 30%, após a venda de hoje; a Tuesday, 14,3%; e o investidor Luiz Alves Paes de Barros, outros 8%, resultando num float de apenas 12%.
“Ela está muita largada por conta disso. Como não tem liquidez, nenhum institucional olha,” disse Adeodato. “Mas o valuation não faz sentido: ela vale R$ 200 milhões e tem R$ 130 milhões em caixa. E a empresa está com o maior EBITDA e margem de sua história e tem um business muito diversificado.”
Nas contas da Tuesday, o net asset value (NAV) da WDC hoje é 3,5x o preço de tela. Para chegar nesse número, Adeodato disse que pegou os ativos imobilizados da empresa, estimou um preço de liquidação forçada e colocou na conta também o backlog de receita da empresa, de R$ 700 milhões.
“Aplicamos um histórico de inadimplência nesse backlog, um pênalti de liquidação e liquidamos 100% da dívida, de R$ 600 milhões. Nesse cenário, o que sobra se fechasse a companhia hoje, numa visão muito pragmática, é uns R$ 700 milhões.”
Adeodato disse ainda que a WDC está bem posicionada para surfar algumas tendências importantes dos próximos anos, incluindo o mercado de redes privativas de 5G e de data centers.
“A diversificação setorial, que reduz a dependência do setor de telecom, e o avanço em áreas como retail media e data centers são muito positivos para a companhia,” disse ele. “Além disso, o desenvolvimento de redes privativas 5G e a vertical de cibersegurança posicionam a WDC na vanguarda tecnológica, aproveitando o ciclo de transformação que a inteligência artificial e a necessidade de segurança de dados impõe às empresas.”
A Tuesday Capital faz todos os seus investimentos por meio de fundos monoativos captados com terceiros, principalmente famílias brasileiras.
“Todas as nossas teses têm que ter uma proteção de capital muito grande – seja porque o valor terminal é muito acima do que estamos entrando, ou porque o yield da geração de caixa paga nosso dinheiro – e sempre têm que ter um plano de saída claro,” disse Thompson, que já foi CEO da Yduqs e da Alliança Saúde.
A WDC é o segundo investimento da Tuesday, que também investiu na Bridgewise, uma empresa israelense de inteligência artificial para investimentos que tem entre seus investidores o Emirates National Bank of Dubai, o Six Group (braço de venture da Bolsa da Suíça), e a L4 (o braço de venture capital da B3).
A Tuesday investiu US$ 3 milhões na Bridgewise há um ano; segundo Adeodato, o investimento agora está marcado em cerca de US$ 8 milhões.
Segundo Thompson, a Tuesday já tem outras três teses no pipeline: outros dois investimentos de PIPE na Bolsa brasileira e uma empresa de growth, com um perfil mais parecido ao da Bridgewise.