Se o Presidente Lula soubesse o nível de desânimo e desesperança que permeia o mundo empresarial, seu governo mudaria de rota. 

Se o Presidente Lula entendesse o tamanho da oportunidade do Brasil neste momento, e como seu Governo está botando tudo a perder, ele mudaria de rota rapidamente. 

Uma das vantagens de Lula enquanto político é que — apesar do rótulo de “esquerda” que o acompanha desde os tempos do ABC — o Presidente no fundo sempre foi um pragmático disposto a fazer o que fosse preciso para maximizar seus dividendos políticos. 

Agora, transcorrido um ano e meio de seu terceiro mandato, até as emas do Alvorada sabem que a coisa não está dando certo. 

Depois de ser eleito com o apoio decisivo do centro pragmático — aqueles 2% ou 3% do eleitorado que não morriam de amores por ele mas que o apoiaram para se livrar de Bolsonaro — o Presidente cometeu o erro político de achar que precisava continuar falando para sua base, como se sua sustentação no poder dependesse dela, e não da coalizão de oportunidade que o elegeu.

Este erro de avaliação lamentável se traduziu no que todos conhecemos: um Governo que briga com o Banco Central, vive reclamando do setor privado e só sabe fechar as contas taxando, taxando e taxando. 

O Presidente sempre diz que aprendeu com sua mãe que uma casa precisa ter as contas em ordem — mas Dona Lindu certamente tinha um olho para a despesa, enquanto seu filho não faz o menor esforço por uma reforma administrativa que transforme o Estado numa máquina menos custosa, mais eficiente e geradora de oportunidades em vez de distorções. 

Se ainda restava alguma dúvida sobre o erro de leitura do Presidente, ela certamente foi dissipada pelo novo patamar do câmbio. O dólar a R$ 5,70 — que vai importar inflação e detonar o poder de compra do povo — é sim o resultado de inúmeros fatores macro e geopolíticos, mas quem lançou suas bases foi o Presidente da República, com seu discurso beligerante contra o setor privado e suas tentativas constantes de desconstruir avanços que outros governos fizeram na economia. 

É triste — e trágico — observar que um dos maiores líderes políticos da nossa história moderna, outrora capaz de mobilizar as massas e fazer no Governo a síntese de uma sociedade heterogênea e complexa, hoje tenha se tornado um propagador de ideias atrasadas, um refém de recalques, e não disponha de amigos ou companheiros capazes de lhe dizer algumas verdades. 

Todas as falas do Presidente indicam que ele vive numa bolha de adulação e tem uma leitura parcial da economia — olhando os dados pelo retrovisor e não pelo vidro da frente. 

O real é hoje uma das moedas mais depreciadas do mundo, as empresas brasileiras estão na xepa porque falta confiança no futuro, e a enxurrada de investimento externo que supostamente viria com a volta de Lula ao poder simplesmente não aconteceu. (O Presidente deveria se perguntar por quê.) 

Além disso, a taxa Selic não pode cair como deveria porque o tal arcabouço fiscal criado por este Governo tem a integridade de um queijo suíço. 

A economia trabalha com o freio de mão puxado — e o nome do motorista é Luiz Inácio. O resultado desta visão de País será inflação resistente, juro alto por muito tempo, e um crescimento medíocre que punirá Heliópolis e a Baixada Fluminense muito mais do que o Jardim Europa. 

Lula sempre se emociona ao falar do combate à fome e à miséria — mas ainda não entendeu que seu Governo está sendo um obstáculo em vez de uma solução. Simplesmente falar sobre a fome a miséria não faz com que elas desapareçam; criar um ambiente econômico pró-investimento, sim. 

Talvez ainda haja tempo para o Presidente reverter o curso e salvar seu legado. E como no curto prazo o destino do Governo é o destino do Brasil, todos deveríamos torcer a favor. 

Mas depois de tanto estrago feito, o Presidente teria que dar um choque de credibilidade na economia, adotando medidas que todos julgam improváveis para reverter as expectativas e derrubar a curva de juros, com gestos muito mais do que palavras. 

O Lula do primeiro mandato sabia fazer isso com um sorriso no rosto e uma piscadela — e por isso deu tão certo.