Quando um caminhão da Sumicity estaciona no centro de alguma cidade do interior, o roteiro é sempre o mesmo: enquanto alguns funcionários se penduram nos postes para instalar a rede de fibra óptica, outros começam a oferecer os planos aos moradores curiosos.

Com 102 mil assinantes, a Sumicity é a segunda maior entre as mais de 6 mil provedoras regionais de banda larga, telefonia e televisão que vem comendo pelas beiradas e ganhando dinheiro nos rincões do Brasil — onde as gigantes ainda passam longe.

10671 30f3f21a 19a6 acbe ef4f a02d809c7e64A empresa também é a mais recente investida da EB Capital, a gestora de private equity de Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda, que por mais de uma década foi CEO do Grupo RBS e hoje ocupa a presidência do conselho.

Além de ser conhecido por seu networking, Sirotsky trouxe para a EB Capital a experiência que acumulou nos dois fundos de venture capital da eBricks, que investiram em mais de 30 empresas como Wine.com, GuiaBolso, Âmbar e o app Prova.

Criada para explorar oportunidades no middle market, a EB Capital já atraiu investidores como o Hamilton Lane, o bilionário egípcio Nassef Sawiris, a Península (o family office de Abilio Diniz), e a Unbox, o veículo de investimentos de Luiza Helena Trajano, além de alguns membros da família Sirotsky.

Em dezembro, a EB Capital comprou 60% da Sumicity e, desde então, vem profissionalizando a gestão e turbinando seu crescimento. Logo de cara, Sirotsky trouxe para o comando Fabio Abreu — um executivo que foi CEO da CEMIG Telecom e vp da Telefônica — e implementou um call center e uma área de marketing. O fundador, Vicente Gomes, ficou na presidência do conselho.  

A oportunidade no setor é de saltar aos olhos: o mercado é extremamente fragmentado e a penetração da fibra óptica no País é de menos de 16%. A cereja do bolo: a demanda é secular.

“O Brasil é um país cíclico, então temos que entrar em teses que sejam resilientes, seculares, ou que ao menos respondam a essa dinâmica,” disse Sirotsky. “Se a economia vai mal, o consumo de banda larga aumenta, já que o cara sai menos de casa. Se vai bem, por definição, também cresce.”

Fundada em 2004 por Vicente Gomes, a Sumicity nasceu na cidade de Sumidouro (daí o nome), no interior do Rio de Janeiro, onde a família de Gomes tinha um magazine. Sua mãe queria comunicar a loja com a casa, e Gomes criou um sistema de conexão via rádio que deu conta do recado. A história rodou a vizinhança e em pouco tempo Gomes estava cabeando a cidade inteira.

Do rádio o empreendedor evoluiu para a fibra óptica, e da pequena Sumidouro chegou a mais de 27 cidades nos estados do Rio, Minas e Espírito Santo. Hoje, o backbone da Sumicity — 12 mil quilômetros — é o segundo maior entre as provedoras independentes, atrás apenas da BrisaNet.

A aquisição da Sumicity, também feita num club deal, é o segundo investimento da EB Capital.

Em 2017, a gestora comprou o co-controle da BR Supply, uma fornecedora gaúcha de suprimentos corporativos (em bom português: todo tipo de produto que as empresas usam, desde uniformes até materiais de escritório). O pulo do gato é o sortimento (a empresa opera como one-stop shop) e a capilaridade na distribuição. Ao contrário da maioria das concorrentes, a BR Supply entrega os produtos direto nas lojas e não nos CDs. 

Os dois investimentos estão dentro de uma abordagem que Sirotsky chama de profit and purpose. Tradução: na hora de definir um investimento, além do retorno financeiro a EB Capital diz avaliar o impacto da empresa na sociedade.

“Eu não consigo entender um business que não tenha um bom resultado”, diz Sirotsky. “Mas ao mesmo tempo, acreditamos que as empresas vencedoras tem que ter um propósito por trás. Isso é um elemento de competitividade e sustentabilidade de qualquer negócio”.

O foco da EB Capital são empresas já estabelecidas e com potencial comprovado de escalabilidade. A gestora funciona como uma partnership: os outros dois sócios-fundadores são Pedro Melzer, irmão de Sirotsky, e Luciana Ribeiro, que trabalhou anos na RBS.

A meta da Sumicity é dobrar sua base de assinantes até o fim do ano, ultrapassando a marca dos 200 mil. (Quando vai entrar num novo mercado, a Sumicity faz as contas e tenta responder à pergunta: “custa mais começar do zero ou comprar um provedor que já opera na região?”)

Com o sucesso dos dois club deals, Sirotsky está se preparando para levantar um fundo de high-growth focado em profit and purpose. A captação deve começar no segundo semestre.