O Grupo SBF – o dono da Centauro e da operação da Nike no Brasil – acaba de anunciar que Gustavo Furtado será o novo CEO da companhia, substituindo Pedro Zemel, que está no comando há nove anos após substituir o fundador Sebastião Bomfim Filho.
A passagem de bastão acontecerá em 24 de abril. Zemel sairá para tocar projetos pessoais, mas será indicado para o conselho da empresa.
O anúncio pegou analistas e investidores de surpresa.
“Foi inesperado. O Zemel entregou a desalavancagem que tinha prometido e agora seria uma fase mais tranquila para ele,” disse um gestor que acompanha o papel.
Segundo uma fonte próxima à alta gestão da companhia, Zemel havia comunicado no fim do ano sua intenção de sair, depois de concluir o que considerava seu ciclo na companhia.
“Ninguém gostaria de perder o Pedro, mas ele é jovem e é natural que queira focar em outras coisas na vida,” disse essa fonte. “Mas todos estão tranquilos sobre o futuro, pois o novo CEO foi contratado diretamente pelo Bomfim e pela GP.”
Furtado está no Grupo SBF desde 2013 e é o vice-presidente e general manager da operação da Centauro. Antes, tinha sido Chief Digital Officer e general manager da SBF Ventures, onde foi responsável pela criação e aquisição de outras unidades de negócio como a NWB, voltado para a criação de conteúdo de esportes, e a plataforma digital de dança FitDance.
O novo CEO é um engenheiro formado pela Universidade de São Paulo e com MBA na Kellogg School of Management.
“A mudança não estava no radar, e o Furtado também vai ter que lidar com um cenário macro adverso, pressão de custo e demanda mais fragilizada,” disse Danniela Eiger, analista da XP.
Zemel vai deixar o Grupo SBF após 12 anos na companhia – os últimos nove como CEO. Ele substituiu o fundador Sebastião Bomfim Filho em 2016 e foi o responsável por liderar o processo de IPO três anos depois.
Foi em sua gestão que o grupo comprou a Fisia, a operação da Nike no Brasil, em 2021.
Mas dois anos depois, Zemel teve sua maior prova de fogo: uma má comunicação da gestão com o mercado e resultados abaixo do esperado fizeram a ação da empresa implodir: em apenas um dia, o papel chegou a cair 25%.
A recuperação demorou, mas veio nos trimestres seguintes – com uma geração de caixa robusta e redução forte na alavancagem.
“Aquele foi um momento ruim, mas que não chegou a manchar a imagem dele. E é bom ver que ele vai permanecer no conselho: se houvesse algum problema de relacionamento, governança ou outro aspecto, ele não ficaria,” disse um gestor.
A partir de abril, Furtado precisará mostrar o caminho para o futuro do Grupo SBF. Segundo um outro gestor, “muita gente achava pouco atraente uma história de varejo que não crescia,” com poucas aberturas de lojas.
Em dezembro, Furtado e Zemel tiveram uma reunião com o time de analistas da XP, na qual elencaram as prioridades estratégicas para os próximos anos: agrupamento de lojas para melhorar o sortimento; novas políticas promocionais, como combos de produtos; modelos de remarcação mais assertivos; nova estrutura de comissionamento; e a retomada gradual da expansão, que ficou parada nos últimos anos.
Num momento sorumbático para o varejo na Bolsa, a ação da SBF cai 13% nos últimos 12 meses.
O papel cai 3% na manhã de hoje. A empresa vale R$ 2,6 bilhões – 12% abaixo do valor do IPO.