A Laureate – empresa de educação com sede nos EUA e a quarta maior do setor no Brasil, dona das universidades Anhembi Morumbi e FMU – lançou hoje sua oferta inicial de ações, que deve ser precificada dia 31.
A Laureate quer vender 29 milhões de ações, com preço entre US$ 17 e US$ 20, e será listada na Nasdaq com o tikker LAUR.
No ponto médio da faixa, a oferta deve levantar US$ 540 milhões, que serão utilizados integralmente reduzir o endividamento acumulado após dez anos sucessivos de aquisições. No fim de setembro, a Laureate tinha US$ 4,2 bilhões em dívida e US$ 481,5 milhões em caixa.
Apesar da sede e do capital americano, a Laureate fala principalmente português e espanhol.
Dos US$ 4,3 bilhões faturados em 2015, 56% vieram da América Latina, incluindo Brasil, Chile, México e outros cinco países. Apenas 24% da receita vêm de suas cinco instituições nos Estados Unidos e plataformas de serviço online. Os outros 20% estão divididos igualmente entre Europa e Ásia/Oceania.
Mais de 90% dos seus 1 milhão de estudantes estão fora dos Estados Unidos. O Brasil concentra o maior número de matrículas: cerca de 260 mil, espalhados em 13 instituições.
Entre elas estão a Anhembi Morumbi, cujo controle foi adquirido em 2005 (e o restante, em 2013). A aquisição mais recente foi a FMU – uma das principais instituições de São Paulo – em 2014.
Fundada em 1998 como uma empresa de cursos preparatórios, a Laureate é uma invenção de Douglas Becker – que, por ironia, abandonou a universidade aos 19 anos para empreender. Becker percebeu a demanda por educação superior fora dos Estados Unidos e ajustou o foco: em 2004, já tinha comprado mais de uma dúzia de universidades fora do país.
A empresa já foi listada, mas em 2007 foi alvo de uma oferta de fechamento de capital liderada pelo próprio Becker e amparada por um grupo de investidores que incluía a KKR e o braço de private equity do Citigroup. Na época, a Laureate foi avaliada em US$ 3,8 bilhões.
Fechada, a companhia se tornou uma máquina de aquisições. Entrou em 11 países, adicionou 100 campi em todo o mundo e viu seu número de matrículas saltar de 300 mil para mais de 1 milhão.
A dívida, no entanto, cresceu mais rápido que o esperado. Nos últimos dois anos, o caixa gerado pelas operações não tem sido suficiente para fazer frente às despesas financeiras, e a empresa fechou no vermelho. Foram US$ 158 milhões de prejuízo em 2014 e US$ 315 milhões em 2015.
Quando começou a sondar o mercado, no fim de 2015, a Laureate tinha planos mais ambiciosos: pretendia levantar US$ 1 bilhão na Bolsa.
Infelizmente, 2016 foi um ano para esquecer. Além da deterioração das economias na América Latina, a companhia teve de lidar com uma crise de reputação nos Estados Unidos.
A Laureate pagou US$ 17,6 milhões ao ex-presidente Bill Clinton para atuar como seu reitor honorário ao longo de seis anos.
O arranjo, comum em universidades privadas, foi convenientemente explorado pelos Republicanos. Na campanha presidencial, Donald Trump alegou que Hillary Clinton, havia lavado dinheiro por meio da Laureate enquanto secretária de Estado. Nada foi provado, mas o estrago foi feito.
Diante do ‘timing’ difícil para ir à Bolsa, a Laureate assegurou US$ 383 milhões no fim do ano em uma oferta privada com seis investidores, incluindo a KKR. A primeira tranche, de US$ 328 milhões, entrou em 20 de dezembro e a outra, de US$ 57 milhões deve entrar até o dia 23.
O reforço de caixa custou os olhos da cara. Os investidores que participaram da capitalização receberam ações ‘superpreferenciais’, que poderão ser resgatadas daqui a cinco anos por um preço 15% superior ao da emissão, mais dividendos.
Pelo contrato, caso a empresa não consiga arcar com o resgate, eles poderão assumir a maioria das cadeiras no conselho de administração e até forçar uma venda de ações da companhia para levantar o dinheiro.
A nova tentativa de IPO da Laureate vem anos depois do setor de educação dos EUA atingir seu pico. As matrículas em universidades com fins lucrativos bateram no teto em 2009 — e em seguida o setor implodiu, graças principalmente ao aperto no crédito estudantil.
Na maior falência do setor, a Corinthian Colleges fechou as portas em maio de 2015, um ano depois do Departamento de Educação reduzir o acesso da empresa ao financiamento estudantil federal. O Governo acusou a empresa de fraudar notas de alunos, presença em aula, e colocação de seus formandos no mercado de trabalho. Apenas em 2013, a empresa havia recebido US$1,4 bilhão em financiamentos federais.