A gestora Prisma assumiu o controle da Dommo Energia – a antiga OGX – e pretende transformar a empresa num veículo para fechar M&As ou parcerias estratégicas no setor.
A lógica é a mesma de um SPAC: a Dommo deve servir como uma casca para incorporar uma empresa fechada e encurtar o caminho dessa nova companhia ao mercado de capitais.
Em termos operacionais, o único ativo da Dommo é o direito de receber 5% da produção de Tubarão Martelo e Polvo sem incorrer nenhum custo com a operação. A companhia recebeu este direito em troca da venda de 80% de Tubarão Martelo para a PetroRio, há dois anos, em uma transação que contou com US$ 100 milhões de financiamento da Prisma.
A PetroRio integrou a operação de Tubarão Martelo com o campo de Polvo e conseguiu economizar US$ 70 milhões em custos de extração, além de estender em 10 anos a vida útil dos campos.
Dentro da Dommo ainda há cerca de R$ 1,5 bilhão em contingências tributárias que estão sendo questionadas pela companhia e mais de R$ 7 bilhões em créditos tributários, cuja utilização ainda é incerta.
Apesar de ser um mico na Bolsa, a avaliação da Prisma é de que a Dommo tem um backlog de tecnologia de FPSOs e extração de óleo que podem ter valor para um novo negócio.
A Prisma ainda não decidiu qual operação vai fazer, mas as alternativas incluem se associar a uma operadora ou a outros investidores. A gestora de special situations — que acaba de levantar US$ 650 milhões para seu segundo fundo — já tem negócios no setor: sua Origem Energia (ex Petro+) comprou o Polo Alagoas da Petrobras por US$ 300 milhões em julho passado.
A Prisma chegou ao controle da Dommo com 47,21% das ações, depois de anos comprando papéis de antigos credores e convertendo essa dívida em equity.
A história da Dommo começou no colapso do Grupo X, de Eike Batista. Os bondholders da holandesa OSX3 Leasing exerceram a garantia que possuíam e passaram a ser donos da embarcação FPSO3. Em seguida, esses bondholders quiseram vender o FPSO3 no mercado internacional, mas para levar adiante essa operação, precisariam tirar a embarcação do Campo Tubarão Martelo, que era da OGX.
A OGX questionou a medida alegando que a saída do FPSO3 pararia sua produção num momento em que ela já estava em recuperação judicial. A confusão entre os credores da OGX e da OSX3 foi instalada, até que se chegou a um acordo que definiu uma redução no valor do contrato de charter e a entrega de uma participação em ações da OGX para os credores da OSX3.
Os credores da OSX3 ficaram reunidos numa sociedade chamada Settlement ShareCo, que tinha cerca de 47% da Dommo. Há alguns anos, a Prisma Prisma comprou bonds da OSX3 que davam direito a uma participação na Settlements ShareCo – quando essa sociedade foi dissolvida, a Prisma recebeu uma participação direta de 18,3% da Dommo.
Em junho do ano passado, a Prisma já havia alcançado uma fatia de 25,3% depois de comprar 7% das ações em bolsa já pensando em fazer da empresa uma espécie de SPAC. Naquele momento, a Prisma disse que pretendia converter mais R$ 25,5 milhões em créditos contra a companhia em participação acionária, e foi com essa operação, agora, que atingiu a participação que lhe dá o controle.
A Dommo hoje é uma empresa ‘largada’ na Bolsa. No pregão de segunda-feira, após o anúncio do novo controlador, a ação subiu 35% para R$ 0,61, e a empresa atingiu um market cap de R$ 310 milhões.