Após meses de especulação, Embraer e Latam finalmente fecharam seu primeiro negócio.
A companhia aérea realizou um pedido firme de 24 aeronaves E195-E2, avaliado em cerca de US$ 2,1 bilhões ao preço de tabela (ou US$ 1,05 bilhão assumindo um desconto de 50%), e assegurou direitos de compra para mais 50.
As entregas, inicialmente destinadas à Latam Brasil, estão programadas para começar no segundo semestre de 2026. A Latam poderá direcionar algumas aeronaves a suas outras operações regionais posteriormente.
O acordo foi um daqueles em que os três lados (as duas empresas e o mercado) saíram satisfeitos, já que ajudará a Embraer e a Latam a fortalecer as áreas de suas operações em que os analistas mais enxergavam espaço para crescimento.
A ação da Embraer subiu 4,6% ontem, para R$ 80,30, e acumula ganhos de 63% em 12 meses.
O pedido da Latam dá ainda mais força ao antes preocupante backlog da família de jatos E2 — a segunda geração de E-Jets da empresa.
Este é o quarto acordo de venda de aeronaves E195-E2 que a Embraer realiza no ano, após compromissos estabelecidos com a ANA, SAS e Avelo, o que elevou a carteira de pedidos do modelo de 179 no fim do ano passado para 249 agora.
“O pedido melhora a visibilidade das receitas de médio prazo da Embraer e é um forte endosso da plataforma E2 por um cliente relevante, validando a eficiência de custos e a flexibilidade operacional da aeronave,” disse Lucas Marquiori, do BTG.
Segundo o analista, a demanda aquecida pelos jatos E2 reflete a esperada normalização da cadeia de suprimentos, que enfrenta problemas este ano; e uma recuperação do negócio de aviação comercial da Embraer, que apresentava desempenho bem inferior às demais áreas de atuação da empresa desde 2022.
Com a inflexão iniciada em 2025, o backlog do negócio de aviação comercial da Embraer cresce agora 49% nos últimos três anos e meio, contra 54% da área de defesa & segurança, 95% em serviços & suporte e 127% da aviação executiva.
“O acordo com a Latam significa que a carteira de pedidos da Embraer pode atingir um novo recorde no terceiro tri, de US$ 31 bilhões, o que deve ajudar a sustentar a performance da ação,” disse Daniel Gasparete, do Itaú BBA.
A ação da Latam, por sua vez, subiu 1% após o anúncio para US$ 47,62, reforçando uma alta que já supera os 80% nos últimos 12 meses.
A compra ressalta o bom momento operacional da empresa após concluir seu Chapter 11 no início do ano, e explicita a sua intenção de ampliar a oferta de voos nos cada vez menos abastecidos mercados regionais brasileiros, em um momento em que Azul e Gol reduzem suas operações.
“A Latam tem a oportunidade de capturar uma janela doméstica única, alavancando um cenário competitivo favorável no Brasil e as restrições financeiras dos concorrentes para sustentar seu forte impulso de crescimento com uma aeronave que aprimora sua conectividade regional,” disse Marquiori, do BTG.
Segundo o analista, o E195-E2 tem dimensões corretas para ser utilizado em rotas secundárias, substituindo os menos eficientes A319 sem incorrer em custos do nível dos A320; oferece economia de combustível de ponta; possui uma rede de suporte geograficamente alinhada à estrutura da Latam; e, em um ambiente de oferta restrita, tem prazos de entregas menores do que os dos seus concorrentes globais.
Mas no JP Morgan, o analista Marcelo Motta nota que, apesar de positivo, o acordo torna a frota da Latam ainda mais diversa (a empresa possui aeronaves de fuselagem estreita e larga da Airbus e aeronaves de fuselagem larga da Boeing), o que pode introduzir complexidades adicionais de manutenção.
A Embraer vale R$ 60 bilhões na Bolsa; a Latam vale US$ 15 bi.