A Auren Energia – a empresa que nasceu da fusão da Cesp com os ativos de energia da Votorantim e CPP Investments – está diante de um dilema. 

‘Supercapitalizada’ e pouco alavancada, a dúvida entre os investidores é se a empresa caminhará para ser uma grande pagadora de dividendos ou uma grande alocadora de capital.  

Fábio Zanfelice“O mercado vai ter de esperar um pouco mais para descobrir isso,” o CEO Fabio Zanfelice disse ao Brazil Journal. Segundo ele, a Auren está analisando “diversas oportunidades de M&As”, o que tem tomado 80% do tempo do CFO Mario Bertoncini. 

Mas, como sinalizou ao perder a CEEE-G para a CSN em julho, a empresa não está disposta a comprar “qualquer ativo a qualquer retorno” – ainda mais num momento de mercado em que as taxas ainda estão muito comprimidas. 

“Se não encontrarmos deals que façam sentido, vamos aumentar a distribuição de dividendos,” disse Fabio, sem colocar um prazo para essa decisão. “O que não pode acontecer é distribuir o caixa e depois aparecer uma oportunidade e termos de fazer um follow-on.”

A Auren encerrou o segundo trimestre com R$ 3,3 bilhões em caixa. A relação entre a dívida líquida e o EBITDA é de 1,8x. Além do caixa e do espaço no balanço, a Auren ainda pode usar prejuízos acumulados da Cesp para destravar valor em aquisições.  

A empresa também discute na Justiça desde 2013 uma indenização da União por conta da não-renovação da concessão da usina de Três Irmãos nas condições da MP 579, do governo Dilma Rousseff. 

Nesse processo, a Auren tem a receber um valor ‘incontroverso’ de R$ 1,7 bilhão – o que daria entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões em valores atualizados. Mas a empresa discute um valor adicional na Justiça e, se sair vitoriosa, pode receber mais que o dobro em indenizações. 

O mercado especula a possibilidade da Auren entrar num acordo e garantir o recebimento, a partir de 2024,  do valor ‘incontroverso’, abrindo mão do que ainda está em discussão. 

Pela relevância dos valores – quase um terço do market cap da companhia, de R$ 15 bilhões – o CEO diz que não comenta sobre o processo, mas que o “assunto é avaliado semanalmente pela companhia”. 

Para um gestor, a Auren tem um problema bom. “Brota dinheiro de tudo quanto é lado,” disse ele. “A questão é que nesse cenário de oferta e demanda de energia não é tão óbvio assim reinvestir dinheiro no setor.” 

Para ele, perder a CEEE-G foi ruim para a Auren por um lado, mas mostrou uma disciplina na alocação de capital que foi bem recebida pelo mercado.  “Vamos ver se eles manterão essa paciência,” disse o gestor, que vê a possibilidade do CPP pressionar por investimentos. 

Segundo Fabio, isso não deve acontecer. “Se fizermos algo sem disciplina, estaremos desvalorizando esse ativo que também é deles”, disse o executivo.

A Auren – o nome é um misto de ‘aurora’ com energias renováveis – está se posicionando como uma empresa diversificada com fontes de geração hidrelétrica, solar e eólica, inclusive com projetos híbridos. A empresa também tem investimentos greenfield relevantes no horizonte: o pipeline a ser desenvolvido nos próximos 5 anos pode aumentar a capacidade instalada em 33%.