O Casino está vendendo metade de suas ações no Grupo Pão de Açúcar (GPA) para sua outra subsidiária, o grupo colombiano Almacenes Exito.
A transação, que na prática equivale ao grupo francês tirar dinheiro de um bolso para colocar no outro, não muda nada no dia-a-dia nem na gestão do GPA.
Mas trata-se de uma operação engenhosa: o Casino retira caixa do Exito, uma empresa com endividamento zero e forte geradora de caixa, sem que o Exito tenha que pagar um dividendo, algo que limitaria o montante a ser distribuído e que teria que ser dividido com os acionistas minoritários.
O Casino vai usar os recursos para reduzir sua dívida. O grupo tem cerca de 7 bilhões de euros em caixa em suas diversas subsidiárias, mas a maior parte de seus 8,5 bilhões de euros de dívida são devidos pela holding, na França.
O Exito está pagando 1,8 bilhão de dólares por 50% da Segisor — a empresa do Casino que é dona de 100% das ações com direito a voto do GPA — e pela Libertad, a subsidiária do Casino na Argentina.
A combinação destas empresas cria um gigante do varejo sulamericano — com faturamento de 34 bilhões de dólares e geração de caixa de 2,7 bilhões de dólares, em números de 2014 — e deve levantar especulações sobre o objetivo final de Jean-Charles Naouri, o CEO e controlador do Casino.
A operação anunciada hoje tem todas as digitais de Naouri, um financista que turbinou o Casino através de múltiplas aquisições e controla o grupo por meio de diversas participações em cadeia. Um tecnocrata que se tornou banqueiro de investimento e em seguida investidor, Naouri controla o Casino por meio do Rallye, seu fundo de investimentos.
Os acionistas de GPA vão se perguntar se o objetivo de Naouri é, mais adiante, reunir todos os acionistas dos negócios da América do Sul nesta nova empresa Exito-GPA (através de uma troca de ações), ou até mesmo fazer essa unificação societária em nível global, acabando com o controle alavancado que o Casino tem sobre suas subsidiárias e simplificando sua estrutura acionária. Hoje, o Casino controla o Exito com 54,8% do capital, e detém cerca de 50% do capital do GPA.
Um gestor que conhece bem a empresa disse que há três bons motivos para a operação ter sido estruturada de forma que a maior empresa (o GPA) esteja sendo adquirida pela menor (o Exito). Em primeiro lugar, o Exito é a empresa que tem uma posição de caixa líquido (isto é, seu caixa é maior que sua dívida). Já o GPA tem um pouco de dívida líquida. Em segundo lugar, o Casino tem mais liberdade de ação no Exito, já que a empresa tem uma única classe de ações. Além disso, na Colombia, a lei das SA permite que o controlador vote numa transação como esta, apesar do claro conflito de interesses, o que está ficando cada vez mais difícil no Brasil (graças à disposição de minoritários de levar os abusos à CVM e à Justiça). Finalmente, o custo de capital na Colômbia é mais civilizado do que no Brasil.
O Exito concordou em pagar 100 reais por ação ON do GPA, o que equivale a um prêmio de 21% sobre a média ponderada das ações PN do Pão de Açúcar nos últimos 66 pregões.
Além da lógica financeira, no comunicado ao mercado o Casino tentou apontar também para uma lógica operacional, falando de ‘sinergias e oportunidades de desenvolvimento’. É possível que isto signifique o GPA tem muito a aprender com a experiência do Exito no formato de lojas de desconto, e que o GPA possa levar para a Colômbia o formato de atacarejo do Assaí, que não existe lá.
Ainda assim, os minoritários do Exito devem ficar desconfortáveis com uma operação em que a empresa colombiana paga um prêmio para co-controlar uma outra companhia junto com seu próprio controlador.
Na França, as ações do Casino caem 30% nos últimos 12 meses — refletindo em boa parte a queda do GPA no Brasil e a desvalorização do real — enquanto as ações do Carrefour sobem 14%.