Na antiguidade greco-romana, as sibilas eram profetisas que anunciavam os planos dos deuses através de mensagens subliminares e indiretas. A mais proeminente de todas foi a Sibila de Cumas, que na mitologia fazia a interlocução do deus Apolo com a humanidade – e residia na colônia grega de Cumas (hoje uma região do sul da Itália), o que lhe deu o nome.

A Sibila de Cumas certa vez se dirigiu a seu deus, com o punho cerrado e cheio de areia, e lhe fez um pedido especial: que Apolo lhe desse anos de vida na mesma quantidade de grãos de areia em sua mão. 

Desejo realizado, mas com o nefasto porém de que, dali por diante, sua aparência física passaria a ser proporcional ao tempo vivido. Segundo a lenda, a Sibila de Cumas viveu 990 anos (e com uma aparência e saúde proporcionais).

Em seu livro Tempo de Vida: por que envelhecemos ― e por que não precisamos (416 págs, Editora Alta Cult), o biólogo geneticista David Sinclair prova que podemos realizar o mesmo desejo da Sibila de Cumas, mas mantendo a aparência e a saúde joviais. 

O autor, um professor e pesquisador de Harvard, narra a história humana, desde nosso primeiro grupamento genético até um panorama do que será nossa expectativa de vida e hábitos no longo prazo. E o principal: as causas do envelhecimento, e como podemos mitigar isto.

Desde que ganhei este livro, ele influiu em inúmeras decisões sobre vida e saúde – aspectos simples, muitos deles óbvios, mas com alto impacto em meu bem-estar.

Trabalhando com medicina diagnóstica há aproximadamente dois anos, convivo com médicos que preconizam que o approach ideal para se viver bem é promover a saúde, e não tratar a doença. E esta é justamente a tônica da pesquisa de Sinclair.  Sua principal mensagem é de que o envelhecimento é uma doença, e não algo pré-determinado (ou karma, para os mais espiritualizados). 

Sinclair ensina que o envelhecimento nada mais é do que o nosso DNA perdendo informação genética ao longo do tempo. E esta “perda de informação” se traduz em doenças cardíacas, câncer, dor, fragilidade (e morte).

Apesar disso, a influência genética é um fator menor na equação da longevidade; a maior parte, esmagadoramente, vem do nosso estilo de vida.

Para o autor, o envelhecimento não é uma parte inevitável da vida, mas um processo com amplo espectro de consequências patológicas (desembocando nas principais doenças que definem nossa “causa mortis”).

Nossos “genes da longevidade” são escalados para trabalhar basicamente na rotina da escassez: seja com uma dieta mais equilibrada entre as calorias que consumimos e queimamos, seja gerando demanda via um bom exercício físico.

“O corpo adora um caos bem controlado,” escreve o autor.

Ele também ensina que o tempo é desproporcionalmente importante em nossas vidas: somos muito mais saudáveis e humanos quando temos tempo. Em outras palavras: o stress mata mesmo.

O livro também tem tiradas descontraídas e ácidas – como a informação de que a uva não é um alimento tão bom quanto parece, ao passo que a batata é uma injustiçada – e faz excelentes provocações de como será a vida quanto o mundo tiver 10-15 bilhões de habitantes.  

Sinclair se pergunta como serão as políticas sociais e macroeconômicas com uma população excessivamente mais velha – o eterno dilema previdenciário – e dá dicas de como medir nossa saúde de maneira mais adequada.

Tempo de Vida é uma leitura obrigatória para quem almeja uma vida bem vivida, ou deseja um guia para navegar o outono.

Pedro Thompson é CEO da Alliança Saúde.