Entre o Natal e a virada do ano, a DASA, a maior empresa de medicina diagnóstica do País e a terceira do mundo, anunciou a venda de dois de seus negócios — a Pro Echo e a Lafê — por 66 milhões de reais.
A venda cumpre, pelo menos formalmente, uma exigência do CADE, que quer fomentar a concorrência no Rio de Janeiro, onde a DASA, controlada por Edson Bueno, é líder absoluta de mercado.
Em dezembro de 2013, o CADE aprovou a fusão da DASA com a MD1 (a empresa de diagnósticos de Bueno no Rio), criando um gigante. Para mitigar a capacidade da DASA de impor preços no Rio, o CADE obrigou a empresa a vender a terceiros um pacote de ativos com um faturamento anual combinado de R$ 110 milhões. O CADE disse que a lista de ativos teria que incluir “cerca de 30 pontos de coleta, uma marca conhecida no mercado carioca, conjunto de equipamentos, profissionais que trabalham na empresa”.
Para cumprir esta exigência, a DASA, dona de marcas como Lavoisier, Pasteur, Lâmina e Bronstein, vendeu a Pro Echo e a Lafê para João Renato Côrtes de Barros Silveira, um conhecido profissional do mercado de medicina diagnóstica no Rio de Janeiro.
Silveira conhece bem o negócio. Foi ele quem fundou a ProEcho e a vendeu para a MD1, permanecendo como executivo de Edson Bueno por alguns anos.
Outros laboratórios fizeram ofertas pela operação que a DASA queria vender, mas não chegaram a um acordo com Bueno. “Dá para entender ele não vender para um estratégico,” diz o representante de uma empresa que participou do processo. “Qualquer um fica receoso de abrir o seu mercado para um grande concorrente.”
As informações financeiras sobre os ativos vendidos são confidenciais, o que impede uma análise mais perfeita, mas comparando o faturamento da DASA com seu valor de mercado na Bolsa, o preço de venda foi baixo.
A DASA teve um faturamento líquido de aproxidamamente 2,7 bilhões de reais em 2014 e tem um valor de mercado de 3,47 bilhões de reais, ou seja, negocia a 1,28 vez seu faturamento líquido.
Se, como exigiu o CADE, a operação vendida tem um faturamento líquido de 110 milhões de reais, o preço de 66 milhões de reais sugere que o pacote Pro Echo-Lafê foi vendido por 0,6 vez o seu faturamento — metade do múltiplo no qual a DASA negocia.
Agora, o CADE vai analisar se a operação se enquadra nas exigências impostas por ele no Termo de Compromisso de Desempenho assinado pela DASA e Bueno.
“Essa análise vai mostrar se o CADE considera que a venda foi feita para um comprador capaz de restabelecer as condições mínimas de concorrência que existiam antes da fusão da DASA com a MD1,” diz Cleveland Prates, sócio da consultoria Pezco Microanalysis, especializada em regulação, e ex-conselheiro do CADE. “Isso envolve, entre outros fatores, avaliar o nível de conhecimento desse comprador bem como sua capacidade de investir no crescimento da empresa no médio e longo prazo.”