O Financial Times de hoje chama atenção para o fato da curva de juros dos Treasuries continuar invertida, um sinal de que o mercado mais líquido do mundo continua apostando que os EUA vão entrar em recessão — em que pese a alta recente do S&P 500.

A diferença entre o yield dos papéis de 2 anos e 10 anos voltou a subir e atingiu o maior nível em três meses. O gap se aproxima do pico atingido em março, que registrou a maior abertura em 42 anos em meio à crise desencadeada pelo colapso do Silicon Valley Bank. 

Os títulos de 2 anos pagavam hoje pela manhã 4,77%, contra 3,77% dos papéis de 10 anos. A curva virou em abril do ano passado e desde então se mantém invertida.

Como nota o FT, todas as recessões das últimas cinco décadas foram precedidas de inversão na curva dos Treasuries.

Na percepção do mercado, o Federal Reserve deverá fazer novas altas nos juros, o que empurra para cima os rendimentos dos títulos de prazo mais curto. Mas o aperto deverá provocar uma recessão, o que levaria a um corte dos juros pelo Fed mais adiante.

Apesar da pausa na última reunião, Jay Powell, o presidente do Fed, afirmou que o trabalho contra a inflação ainda não chegou ao fim.

Na reportagem do FT, Jurrien Timmer, diretor de macro global da Fidelity, disse que seria “insensato” apostar contra a recessão. “Quando a curva se inverte nesse grau e por tanto tempo, sempre acontece uma recessão.”

Esse é um cenário que normalmente não combina com o bull market e os analistas debatem se dessa vez será diferente.

O S&P 500 acumula alta ao redor de 15% desde o início do ano, mas a valorização foi puxada por algumas poucas empresas do setor de tecnologia impulsionadas pelo boom de investimentos em inteligência artificial.