Uma das maiores plataformas de educação online do mundo, a Coursera está vindo ao mercado com um IPO que ilustra a transformação brutal que o setor de educação enfrenta, em parte graças à pandemia. 

A educação tradicional está sendo colocada em cheque, com cada vez mais estudantes se questionando se vale a pena se endividar por décadas para pagar US$ 80 mil numa graduação presencial.  

A Coursera quer abrir seu capital no mês que vem na Bolsa de Nova York com o ticker COUR. 

Os coordenadores da oferta são Morgan Stanley, Goldman Sachs, Citi e UBS. 

A Coursera tem mais de 77 milhões de alunos cadastrados, dos quais apenas 3,6 milhões são pagantes. A plataforma oferece 4 mil cursos e graduações de 200 instituições diferentes. 

No ano passado, a receita da empresa foi de quase US$ 300 milhões, uma alta de 59%. O prejuízo também cresceu, passando de US$ 47 milhões para US$ 67 milhões. 

Diferente da maioria das plataformas online, a Coursera não produz nenhum conteúdo proprietário. Ela opera apenas como um canal de distribuição para grandes universidades e instituições de ensino, ganhando uma comissão pelas vendas dos cursos. Um dos grandes apelos da plataforma é ter parceria com instituições como Stanford e Princeton. 

Fundada em 2011, a Coursera nasceu da cabeça de Andrew Ng, um professor de Stanford que um dia decidiu gravar e publicar vídeos de seu curso de ‘machine learning’ na internet. 

Quando se deu conta do alcance dos vídeos — foram mais de 100 mil alunos assistindo, frente aos 400 estudantes que viam suas aulas a cada ano na universidade — Andrew decidiu transformar o experimento num negócio.  

Os cursos oferecidos pela plataforma vão desde aulas de menos de duas horas que custam US$ 10 até graduações completas, que saem por US$ 9 mil a US$ 45 mil. A plataforma tem ainda cursos de quatro a seis semanas por cerca de US$ 99, e especializações que duram de três meses a um ano e custam de US$ 2 mil a US$ 6 mil. 

“Num mundo em que a automação e digitalização vão substituir um número sem precedentes de trabalhos, dar a esses profissões a oportunidade de melhorar suas habilidades e se reinventar vai ser algo cada vez mais crucial para melhorar as condições de vida globais e a igualdade social,” o fundador escreveu no prospecto da oferta. “Neste contexto, a educação online vai ter um papel crítico.”

A Coursera já levantou mais de US$ 440 milhões em nove rodadas de capital. Na última, em julho passado, foram US$ 130 milhões a um valuation de US$ 2,5 bi.

O mercado de educação global movimenta mais de US$ 2 trilhões por ano, dos quais apenas US$ 36 bilhões vem dos cursos online. 

Mas a Coursera não está sozinha: seus concorrentes incluem grandes players como a Udemy, edX e FutureLearn — sem falar na boa e velha Wikipedia e no Youtube, que cada vez mais tem se tornado uma fonte de aprendizado importante para milhões de pessoas. 

O maior pushback dos investidores no IPO deve ser em relação à dependência que a Coursera tem de terceiros. 

Como todo seu conteúdo é gerado por universidades (e boa parte de seu apelo está em ter essas instituições como parceiros), a Coursera pode sofrer pressões para melhorar as condições comerciais no futuro, às custas de sua margem, ou até sofrer concorrência desses próprios parceiros — com as universidades criando, por exemplo, suas próprias plataformas de ensino online.