“Do androids dream of electric sheep?”
Muito provavelmente teremos em breve a resposta para pergunta do título do clássico de ficção científica que deu origem ao filme Blade Runner.
A startup Figure, que desenvolve robôs humanoides, anunciou uma parceria com a OpenAI, a criadora do ChatGPT. A ambição é municiar as máquinas com um “sistema nervoso” de inteligência artificial.
Na ficção, o cenário do futuro distópico é São Francisco. No mundo da realidade, é naquela região da Califórnia que o futuro continua sendo fabricado. A Figure tem sede em Sunnyvale, cidade vizinha de Cupertino e Mountain View, no Vale do Silício.
A startup, fundada em 2022, acaba de levantar US$ 675 milhões em uma série B com valuation de US$ 2,6 bilhões. Participaram da rodada empresas como Microsoft, Nvidia e a Bezos Expeditions – o family office de Jeff Bezos – além da OpenAI.
A Parkway Venture Capital e a Intel Capital, que tinham participado da primeira rodada, de US$ 70 milhões, em maio, entraram novamente.
Brett Adcock, o CEO da Figure, disse que a parceria com a OpenAI será para o desenvolvimento da próxima geração de IA para robôs humanóides.
“A colaboração tem o objetivo de acelerar a produção comercial da Figure ao aprimorar as capacidades dos robôs de processar informações e raciocinar a partir da fala,” afirmou Adcock.
A Microsoft vai fornecer a infraestrutura de armazenamento de dados e treinamento de IA em nuvem, com a plataforma da Azure.
Em poucos meses, os humanoides da Figure começarão a trabalhar em uma fábrica da BMW na Carolina do Sul. Os robôs são utilizados há anos pela indústria automobilística, mas será a primeira vez que uma máquina de duas pernas e dois braços vai trabalhar na linha de montagem.
Não foram dados detalhes sobre os valores envolvidos nem qual será a ocupação das máquinas, mas este foi o primeiro contrato comercial da Figure.
Adcock, que tem 37 anos e foi criado em uma fazenda de Illinois, já fundou três empresas de tecnologia. Sua grande aposta são os robôs, que, segundo ele, começarão a ser frequentes no “mundo real” nos próximos dois anos.
A Figure diz que há 10 milhões de vagas desocupadas nos EUA por falta de candidatos. Desse total, 7 milhões são de atividades de baixa qualificação, no transporte, centros de distribuição e varejo.
Ainda de acordo com informações da startup, a mão de obra disponível para essas funções não passa de 6 milhões – e as grandes empresas de carga e armazenamento estão prevendo dificuldades para contratar pessoal.
“Podemos vender milhões de humanóides, bilhões quem sabe,” Adcock disse à Associated Press em uma entrevista no ano passado. “Eles farão atividades que os humanos não querem, em ocupações em que há falta de mão de obra.”
Mas o que garante que empregos desejados pelos pobres humanos também não serão substituídos?
A Figure divulgou recentemente um vídeo no qual um de seus humanoides, o Figure 01, tira café numa máquina de cápsulas.
O robô mede 1,70 m de altura e pesa 60 kg. Sua mão, como a dos humanos, tem quatro dedos e um dedão oposto. Ele aprendeu a tirar o café “sozinho” depois de um treinamento de 10 horas: ficou “assistindo” vídeos de humanos de carne e osso fazendo café.
No vídeo de demonstração, um engenheiro da startup se aproxima do robô e diz: “Oi, Figure 01. Você pode me fazer um café?” E o robô executa o pedido.
“Isso é IA de ponta a ponta,” disse Adcock.
A Goldman Sachs projeta que a nascente indústria de robôs humanoides poderá estar vendendo mais de 250 mil unidades em 2030, segundo a CNBC. Já o mercado estimado para essa indústria é de US$ 38 bilhões até 2035.
Os preços estão em queda. Um robô desses custa entre US$ 30 mil e US$ 150 mil, praticamente metade do que custava um ano atrás.
Amazon e Tesla também estão desenvolvendo seus próprios humanóides, além de startups como a Boston Dynamics – comprada há dois anos pela Hyundai – e a Apptronik.
Mas Adcock, que também fundou a Archer Aviation – startup de carros voadores –, acredita que conseguirá colocar no mercado os primeiros humanóides viáveis comercialmente.