A Conta Simples — a fintech que oferece uma conta digital PJ para startups com ferramentas de gestão financeira — acaba de levantar uma rodada de R$ 121 milhões para entrar no mercado de crédito.
A Série A foi co-liderada pela JAM Fund, a gestora de venture capital do cofundador do Tinder, Justin Mateen, e pela Valor Capital.
Sem revelar o número, a Conta Simples disse que o valuation foi 10x maior que o da rodada seed há um ano, quando a empresa levantou US$ 5 milhões. Antes da captação, a Conta Simples ainda tinha R$ 25 milhões em caixa (80% do total que levantou até agora).
“Estamos no processo de conseguir a licença de SDC [Sociedade Direta de Crédito], então vamos precisar de parte desse dinheiro para testar e escalar alguns produtos de crédito,” o fundador Rodrigo Tognini disse ao Brazil Journal.
Outra parcela vai financiar o crescimento da startup, que já atende 38 mil empresas (a maior parte startups). Juntas, elas movimentaram R$ 4,3 bilhões na plataforma este ano.
A Conta Simples vai ampliar significativamente os investimentos em marketing para captar mais clientes, “mesmo que isso acabe prejudicando o nosso CAC [custo de aquisição de cliente] no curto prazo.”
Há um ano, quando reportamos a rodada seed, a Conta Simples operava com um CAC de apenas R$ 2. Hoje, esse CAC já está em R$ 50.
Ainda assim, Rodrigo disse que o indicador lifetime value/CAC — uma das principais métricas que medem a sustentabilidade do crescimento de startups — ainda continua num patamar alto, de 8x.
“E quando entrarmos em crédito, a tendência é que esse LTV cresça muito, jogando esse indicador pra um nível ainda melhor,” disse o fundador.
Assim que receber a licença do Banco Central — algo estimado para meados de 2022 — a Conta Simples vai lançar três produtos de crédito: uma antecipação para o pagamento de fornecedores; um produto de ‘crédito fumaça’ (o crédito baseado num histórico de vendas do cliente); bem como um negócio de venture debt que deve ficar restrito a poucos clientes.
A Conta Simples também tem planos de lançar um cartão de crédito. Hoje, o principal produto da empresa é sua solução de ‘múltiplos cartões corporativos’, que permite que o cliente tenha vários cartões vinculados a centros de custo distintos. Mas hoje, os cartões são todos pré-pagos.
“A gente já poderia oferecer um cartão de crédito [mesmo sem a licença do BC], mas usando veículos de funding de terceiros,” disse Rodrigo. “O problema disso é que ficamos sujeitos ao motor de crédito de outros, o que pode fazer com que os limites sejam baixos, prejudicando a experiência.”
A Conta Simples vai lançar um motor de crédito próprio que, em vez de métricas tradicionais como o balanço dos últimos dois anos, use “métricas de venture capital,” disse o fundador.
A entrada em crédito tem um potencial transformacional para a Conta Simples: a empresa estima que sua receita pode mais que dobrar (sem considerar o crescimento dos negócios atuais).
Mas o movimento também embute um risco bem maior para a operação. Recentemente, fintechs como a Stone e a Just (do GuiaBolso) tiveram problemas com suas operações de crédito e foram obrigadas a puxar o freio de mão.
Rodrigo diz que a grande questão é que essas empresas foram com muita sede ao pote.
“Elas começaram a escalar essa parte de crédito muito rápido e sem ter uma análise completa dos clientes,” disse ele. “Vamos fazer isso, mas sem pressa. Queremos conhecer a jornada financeira dessas empresas muito bem antes de sair dando crédito pra todo mundo.”
A Base10 Partners, uma gestora americana que já investiu no Nubank e na Brex, também participou da rodada, assim como alguns investidores anteriores, como o Y Combinator, a DOMO Invest, o Quartz (veículo da família Galló), e Big Bets.