Você está sentado em casa, lendo este blog, pensando em como o mundo vai mal.

O Brasil já está no buraco; a Grécia, prestes a sair do euro.Guy Verhofstadt

Você está chateado com o nível do debate econômico, com o fato de ainda haver governantes que acreditam que dinheiro é questão de “vontade política”, e não de balanço: arrecadação de um lado, custeio e investimentos de outro.

Você está desesperançoso com o Brasil, com a idiotização da política — no Governo e na oposição — e com a qualidade da nossa House of Cunha.

Aí, este blog — que você nem curte tanto, e só lê mesmo por dever profissional — te traz esse vídeo do Guy Verhofstadt, um deputado no Parlamento Europeu que foi primeiro-ministro da Bélgica entre 1999 e 2008.

O senhor Verhofstadt está falando no Parlamento, tendo como audiência, além de seus nobres colegas, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, o homem que foi eleito prometendo dias melhores e, incapaz de produzi-los por decreto, dobrou a aposta, chamando um referendo em que os cidadãos gregos disseram o que qualquer criança (ateniense ou espartana) diria: “Não, papai, eu não quero austeridade, mas eu quero ficar no euro.”

E é aí que você — lanterna de Diógenes na mão — descobre que encontrou no senhor Verhofstadt um homem que fala verdades.

Verdades sobre a Grécia que são igualmente válidas no Brasil, mas que nenhum partido aqui conseguiu (ainda) comunicar como visão, proposta e projeto de poder.

Verdades que nos aproximariam — sim, porque nada é garantido — de retomar a estabilidade do real, reduzir a inflação, e poder pensar em ressuscitar este Lázaro, o PIB.

O senhor Verhofstadt está agitado: o sangue flamengo lhe tinge a tez, e a jugular palpita. Você vê que é um homem apaixonado pelas ideias que defende.

Ele mira Tsipras e diz coisas como: “Acabe com o clientelismo no seu país: os privilégios dos armadores, dos militares, da Igreja Ortodoxa Grega… os privilégios das ilhas, e — não nos esqueçamos — o privilégio dos partidos partidos, que recebem dinheiro e empréstimos todo dia dos bancos públicos, que na verdade estão quebrados”.

Você o ouve reclamar, na cara de Tspiras, que “algumas semanas atrás, 13 cargos de diretores tiveram que ser preenchidos no Ministério da Educação, e, por acidente, doze deles eram do Syriza, seu partido, e só um deles tinha filiação partidária desconhecida. O senhor está usando o sistema! O senhor está caindo na armadilha.”

E, em mais uma admoestação que lhe parece absurdamente familiar, você ouve o deputado dizer, quase à beira de um derrame: “O senhor tem que reduzir o setor público. Eu sei: é difícil para um homem de esquerda, mas TEM QUE SER feito, porque… 800 mil funcionários públicosjQuery32107844832562465929_1502033489790 Isso não funciona!”

Aí você se acomoda na cadeira, relaxa, e deixa alguém no mundo falar as verdades econômicas que são, ao fim e ao cabo, apenas uma questão de bom senso.

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SPOILER ALERT:  O discurso termina com a seguinte conclamação.

“Como o senhor quer ser lembrado? Como um ‘acidente eleitoral’, que fez o povo do seu país ficar mais pobre??  Ou o senhor quer ser lembrado, sr. Tsipras, como um reformista real e revolucionário, na tradição de Venizélos, o grande líder do período entre guerras que modernizou o seu país, um liberal que modernizou o Estado? Essa é a escolha que o senhor tem que fazer! Oitenta por cento do seu povo querem ficar no euro. Mostre que o senhor é um líder de verdade, e não um falso profeta. Aja!”

 

httpv://www.youtube.com/watch?v=P84tN0z4jqM