Em meio a notícias sobre uma potencial venda de controle, a Via Varejo está lançando seu próprio banco digital.

Batizado de banQi, o app oferece conta corrente, pagamentos de boletos e contas, transferências e pagamento com QR Code, além de uma versão digital do velho carnê.

O banco não vai cobrar tarifas e o foco são as classes C, D e E.

Se por um lado as dificuldades que teve na transformação digital do negócio de varejo trazem algum ceticismo em relação à iniciativa, a dona das Casas Bahia e do Ponto Frio larga, em termos de escala, com alguma vantagem para conquistar a população desbancarizada.

Mais de 5 milhões de clientes da Via Varejo usam o carnê para fazer suas compras e outros 20 milhões têm cartões cobranded da varejista.

“São clientes que muitas vezes não tem crédito aprovado nos bancos, mas que pela relação que temos com eles e pela tecnologia que implantamos [de análise de crédito] conseguimos atender,” diz Peter Estermann, o CEO da Via Varejo e do Grupo Pão de Açúcar.

O banQi não será restrito aos consumidores da Casas Bahia e Pontofrio, mas a rede, obviamente, vai usar a capilaridade das lojas para dar escala ao negócio.

“Nossa meta é muito agressiva”, diz Felipe Negrão, o CFO da Via Varejo. “Acreditamos que conseguimos chegar de forma muito rápida nos números de fintechs como Inter e Nubank.” (O Banco Inter tem mais de 2 milhões de clientes e o Nubank, perto de 4,5 milhões).

Nos próximos meses, o banQi vai agregar diversos serviços: empréstimo pessoal, cartões, conta remunerada, venda de seguros, e um sistema de cashback, que vai devolver R$ 1 para cada R$ 100 gastos pelos clientes na plataforma.

Na parte de crédito, a ideia é que o processo de concessão seja feito de forma automatizada. Hoje, a Via Varejo já tem uma extensa base de dados sobre o perfil de crédito de seus clientes e, segundo Negrão, 85% das decisões do carnês contratados já são feitas com algoritmo.

As lojas terão um papel central na atração de clientes — ou, para usar o jargão do setor, o banQi já nasce omnichannel.

Na semana que vem, 34 unidades da Casas Bahia vão amanhecer com uma espécie de ‘pop-up store’ do banQi, e até meados de julho todas as 800 lojas da marca terão o espaço. A ideia é usar as lojas para prospectar clientes e para atender os usuários do banco.

Até mesmo os caixas, onde os clientes do banQi em breve poderão efetuar saques, vão ganhar uma nova roupagem — o objetivo é passar a imagem quase de uma agência bancária.

“Somos os únicos que conseguimos atender essa classe C, D e E de maneira completa”, diz Negrão. “Essa população precisa de um ponto físico para ser atendida e que passe credibilidade. Com a nossa escala conseguimos entregar isso.”

O banQi é uma evolução da parceria fechada em setembro entre a Via Varejo e a Airfox, a fintech de meios de pagamento fundado há 3 anos por Victor Santos e pela coreana Sara Choi — dois ex-funcionários do Google na Califórnia. Desde que se juntou a startup, a Via Varejo vem aprimorando o sistema e pilotando a plataforma em algumas lojas da Casas Bahia.

O banQi vai funcionar como operação independente da Via Varejo e Santos será o CEO. Segundo Negrão, a expectativa é que a partir do terceiro ano o negócio comece a dar lucro. “No começo temos um gasto muito alto para a aquisição de clientes, mas a operação básica já nasce rentável,” diz.

 

O movimento vem algumas semanas depois da Pernambucanas lançar seu próprio banco digital e do Itaú anunciar o iti, uma carteira digital voltada à população de baixa renda desbancarizada. (A Riachuelo e a PagSeguro também já tem seus próprios bancos e a Payly e o Mercado Pago operam ‘wallets’).

Hoje, 43% da população de baixa renda não tem conta bancária; e dos que têm, mais de 60% usam apenas para receber salário.

SAIBA MAIS

A estratégia de meios de pagamento da Via Varejo