Uma empresa de logística chinesa — da qual você nunca ouviu falar mas que movimenta o volume de 3 Fedex por ano — fez na quinta-feira o maior IPO do ano nos EUA.

A ZTO Express (NYSE: ZTO) é focada em ecommerce e faz 75% de seu volume de vendas no ecossistema do Alibaba, a ‘Amazon da China’. 

A empresa — que diz ter como missão ‘trazer alegria para mais pessoas por meio de nosso serviços’ — foi fundada em 2002 e recebeu investimento de pesos-pesados do mundo do venture capital, como o Sequoia, Hillhouse e Warburg Pincus, que certamente viram nela uma forma de participar da história de crescimento do Alibaba.

A estratégia parece arriscada, mas até agora rendeu resultados: a ZTO tem 14% do mercado chinês de entregas, que, mesmo ainda na infância, já é o maior do mundo em volume — uma vez e meia o mercado americano. Em 2015, a companhia entregou mais de 10 milhões de encomendas por dia, três vezes mais que a FedEx no mesmo ano.

Em um processo muito disputado – 15 vezes ‘oversubscribed’, segundo a CNBC – o IPO captou US$1,4 bilhão e precificou a ação a US$19,50, substancialmente acima do teto da faixa pretendida pela companhia, de US$16,50 a US$18,50. O primeiro dia de negociação foi decepcionante (o papel caiu mais de 15%), mas se recuperou 2,5% na sexta-feira, enquanto a Amazon derretia por ter publicado um terceiro trimestre decepcionante. 

A oferta da ZTO — que terminou a semana valendo US$14 bilhões na Bolsa — é mais uma experiência com a bizarra estrutura corporativa inaugurada com o IPO da Alibaba em 2014, que ainda detém o título de maior IPO da história.   Como as regras do capitalismo de estado chinês proíbem que estrangeiros sejam donos de ativos estratégicos no país, o que se vendeu no IPO foram ações da empresa “ZTO Express (Cayman) Inc.”, que detém direitos apenas sobre os lucros da companhia. 

Para além dos problemas de governança que este arranjo gera, a ZTO também tem duas classes de ações, seguindo o padrão de empresas de tecnologia como Facebook e Google: 80% do capital votante permanece nas mãos do fundador e CEO, Lai Meisong, que possui apenas 33% das ações da empresa na China.

Um dos ‘risk factors’ da ZTO é sua extrema dependência do Alibaba. (O cliente final da ZTO não é a empresa de Jack Ma, e sim seus usuários.)  

No prospecto da oferta, a empresa observa que o Alibaba tem investido em concorrentes da ZTO e, por isso, “pode incentivar os usuários de suas plataformas a optar pelos serviços de suas empresas investidas em vez do nossos.”  Pior ainda, o “Alibaba também pode construir uma rede própria de distribuição para atender suas plataformas de e-commerce no futuro.”

A concorrência também tem sido pesada: a empresa disse aos investidores que já teve que cortar os preços de seu frete e que pode ter que fazê-lo de novo.

Em breve, a ZTO também vai ter que lutar pela atenção dos investidores: suas concorrentes SF Express, STO Express e YTO Express pretendem listar em Bolsa em breve, segundo a Bloomberg.