De 2017 para cá, os grandes bancos conseguiram capturar apenas 12% dos aportes líquidos em fundos de investimento, enquanto os outros 88% foram para gestoras independentes, segundo um relatório do JP Morgan que circulou no mercado nesta semana.

O dado mostra como a combinação de juros estruturalmente mais baixos e a proliferação de plataformas abertas de investimento estão transformando a indústria de asset management no Brasil — para angústia dos bancões.

A mudança na dinâmica é brutal: de 2013 a 2017,  os cinco maiores bancos (BB, Itaú, Bradesco, Santander e Caixa) haviam captado 85% dos aportes líquidos. 

Nesse cenário, a expectativa do JP Morgan é que a receita gerada pelas áreas de asset management dos bancos — que favorecia seus resultados na era pré-plataformas — vai crescer num ritmo bem menor daqui para a frente.

Seja por um crescimento mais tímido dos recursos sob gestão ou pela pressão sobre as taxas cobradas nos fundos de renda fixa, o JP Morgan estima que as receitas dos bancões nesta área vai crescer entre 4% e 5% nos próximos anos, metade da taxa de 10% dos últimos três anos.  (Parte do avanço deve vir do crescimento de fundos de renda variável, que tem taxas mais altas, em detrimento da renda fixa.)

O impacto é relevante. As taxas cobradas em fundos chegam a representar até 20% das receitas com serviços dos bancões, que incluem manutenção de conta e anuidade do cartão de crédito, por exemplo. 

Num momento em que os brasileiros começam a procurar produtos com maior retorno, a alta concentração dos bancos em produtos de renda fixa é outro componente que deve pressionar as receitas. 

Enquanto na indústria em geral, 60% dos recursos estão investidos em renda fixa, nos bancos esse número supera os 80%. 

Curiosamente, a análise, feita em dados da Anbima, mostra que a perda de market share está concentrada nos bancos privados.  No BB, o market share ficou estável em 20% nos últimos três anos, enquanto na Caixa subiu de 6,7% para 7,1%. 

O Bradesco foi o banco que mais perdeu market share nos últimos três anos, saindo de 16,3% para 11%.  A participação do Santander saiu de 6,3% para 5,2% e o Itaú perdeu 1,5 ponto percentual, para 14,2%.

Nesse sentido, a equipe do JP Morgan aponta que a decisão do Itaú de abrir sua plataforma para fundos de fora de casa se mostrou acertada. O banco foi o primeiro a oferecer fundos de terceiros e hoje já tem uma plataforma ampla de produtos. 

“Os bancos que optaram por modelos abertos, como o Itaú, estão com mais recursos sob gestão e com uma dinâmica de receita melhor que os bancos que demoraram mais para abrir suas plataformas”, escreveram os analistas. “Ter mais opções para os clientes, ainda que seja dilutivo para as margens, é a melhor forma de criar valor de longo prazo para os bancos”.