Um bate-boca entre uma consumidora e o dono de um bar em Curitiba está pegando fogo no Facebook e, com isto, produzindo mais um daqueles episódios educativos que mostram o quanto falta para um verdadeiro capitalismo de massas se instalar no Brasil.

O enredo é simples e batido: consumidora vai a bar recém inaugurado; acha as porções, pequenas; o preço, salgado, e o serviço, moroso. Sai dali, critica o estabelecimento no Facebook, e horas depois recebe uma resposta malcriada do dono do bar.

Há, no entanto, os detalhes picantes e sórdidos que, neste episódio envolvendo o bar de comida mexicana Phoenix American Mex, funcionam como o jalapeño da enchilada.

Incapaz de aderir ao único protocolo que sobreviveu ao teste do tempo em se tratando do comércio – “o cliente tem sempre razão” -, o dono do bar usou uma gíria pejorativa (“mana”) para se dirigir à cliente, e lhe “sugeriu” outras opções de consumo: se achou a cerveja cara, que fosse comprar no Extra por R$ 3,00 a garrafa; se achou as porções pequenas, que fosse comer “frango com polenta em Santa Felicidade” (bairro italiano de Curitiba).

Pior: referiu-se à cliente como “uma pessoa que deve pertencer à classe dos que começaram a vida agora”, como se o real emergente da classe C valesse menos que o real dos outros.

Inebriado pelo relativo sucesso de seu jovem empreendimento, aberto há sólidos quatro meses, o dono do bar até invocou o santo nome da Ambev como testemunho incontestável de suas “melhores práticas” na gestão da casa.

A falta de habilidade do empreendedor em lidar com uma situação tão trivial quanto corriqueira sugere uma pobreza escandalosa de nossa cultura de varejo, e claro, confirma os piores temores sobre a hegemonia da falta de bom senso.

Mas no Brasil em que milhões de cidadãos recém entraram no mercado de consumo, esses desaforos já não ficam mais por isso mesmo: já há um “rolezinho” marcado para protestar contra o estabelecimento, e policiais civis do Paraná, entrando na celeuma, recomendaram que este tipo de abuso seja denunciado nas delegacias de proteção ao consumidor.

Qualquer um que se disponha a enfrentar a burocracia, pagar impostos e tomar risco para abrir um novo negócio é digno de aplauso. Mas é impensável que, num setor no qual o elemento humano é a variável mais importante, alguém imagine que vá durar muito tempo (e muito menos chegar ao topo) ofendendo seus clientes.

A geração pré-Facebook dizia: “quem não tem competência que não se estabeleça”. Hoje, num mundo em que as redes sociais redefinem mercados e até derrubam governos, o que este dono de bar em Curitiba achou que estava fazendo, exatamente?

Em nota oficial, o Phoenix American Mex explicou que a culpa foi de “um funcionário” que “acessou indevidamente a conta pessoal para responder comentários de clientes.”  Empresa pequena, sabe como é.

Felizmente, ainda há esperança para o varejo curitibano. Quem faturou com a história foi um boteco (de pé sujo e alma limpa), que comentou o imbroglio assim: “Chega de ser maltratado! Venha para o Bar do Moacir, onde a cerveja é barata e você tem sempre razão, sendo mano ou não!”