Onze anos atrás, os organizadores do ATP de Memphis passaram por um estresse financeiro e tiveram que encerrar o torneio de tênis — um dos poucos ATPs 500 do mundo, a terceira categoria mais importante de competições do esporte. 

A derrocada de uns foi a sorte de outros. 

Na época, um grupo de brasileiros liderado pela IMX, a empresa de marketing de eventos então controlada por Eike Batista, aproveitou a rara janela de oportunidade para fazer uma oferta pela data e criar o Rio Open — colocando a Cidade Maravilhosa no circuito mundial do tênis. 

De lá para cá, o Rio Open se consolidou como o principal torneio de tênis da América Latina, atraindo mais de 60 mil espectadores todos os anos e atletas do calibre de Rafael Nadal, que participou das três primeiras edições. 

Carlos Alcaraz“Eu lembro até hoje a emoção que foi conseguir trazer um ATP 500 para o Rio,” Márcia Casz, a diretora-geral do torneio e uma das idealizadoras do projeto, disse ao Brazil Journal. “Foi a concretização de um sonho antigo e um feito inédito para o País.”

A importância do Rio Open tem a ver com a escassez dos torneios ATP 500 — que têm esse nome porque dão ao vencedor 500 pontos no ranking, além de uma premiação relevante em dinheiro. 

Existem hoje apenas 13 torneios desta categoria no mundo, em comparação aos mais de 500 torneios ATP 250, a categoria de torneios imediatamente abaixo. (As competições mais importantes do tênis são os quatro Grand Slams — Wimbledon, Roland Garros, US Open e Australian Open, que dão 2.000 pontos no ranking — seguidos pelos nove ATP 1000, que dão 1000 pontos).

“O Rio Open está para o Brasil assim como o US Open está para os Estados Unidos,” disse Márcia. “Ele é o nosso Grand Slam.” 

O evento – que acontece entre 19 e 25 de fevereiro no Jockey Club – também tem uma importância brutal para a cidade do Rio de Janeiro, tanto do ponto de vista financeiro quanto de visibilidade global.

Dos 60 mil espectadores do evento, cerca de 40% são de fora do Rio, um público que fica em média três dias na cidade. “E é um turismo qualificado, que se hospeda em bons hotéis, consome em bons restaurantes e gira a economia da cidade,” disse Márcia. 

Segundo um estudo da Deloitte contratado pelo Rio Open, o evento injeta mais de R$ 150 milhões na economia do Estado, incluindo na conta os empregos gerados, a contratação de fornecedores e o turismo. 

O Rio Open também dá uma contribuição importante para o tênis brasileiro, já que serve de exemplo para as novas gerações de tenistas.

João FonsecaUm desses jovens é João Fonseca, um carioca de apenas 17 anos que assistiu o Rio Open quando criança junto com seu pai e acabou decidindo se tornar um profissional. Ano passado, Fonseca foi o número 1 do ranking juvenil, depois de ter vencido o US Open da categoria. 

Este ano, ele migrou para o circuito profissional e foi um dos três convidados do Rio Open para participar do torneio — mesmo sem ter o ranking necessário para isso. 

“Ele é uma verdadeira joia do Rio. Uma jovem promessa do tênis brasileiro,” disse Márcia. “Existe uma expectativa enorme de como ele vai performar no torneio deste ano.”

Outros brasileiros confirmados são Thiago Wild, o número 83 do ranking, Thiago Monteiro, o número 118, e Gustavo Heide, o número 156. O tenista melhor ranqueado que vai participar do Rio Open deste ano é o espanhol Carlos Alcaraz, o número 2 do mundo. 

Márcia nota que o Rio Open já serviu de trampolim para grandes talentos do tênis. Alcaraz, por exemplo, foi convidado a participar do evento há quatro anos, quando tinha apenas 16 anos e ainda era só uma promessa do esporte. O espanhol ganhou o Rio Open de 2022 e chegou à final no ano passado.

Casper Ruud e Félix Auger-Aliassime — os números 12 e 28 do mundo, respectivamente — também disputaram seu primeiro torneio profissional nas quadras de saibro do evento.

Em termos de público, a edição deste ano deve manter o mesmo patamar das anteriores, já que o Rio Open está operando em capacidade máxima há vários anos. 

Mas Márcia diz que o tempo de permanência do público no complexo tem aumentado ano a ano, o que tem estimulado o crescimento dos patrocínios, que respondem por 60% a 70% da receita do evento. 

Na sequência vem a bilheteria, seguida pela venda de camarotes e pelos restaurantes. O evento também se aproveita de um incentivo fiscal de ICMS dado pelo Estado do Rio de Janeiro. 

Hoje há 30 marcas patrocinando o Rio Open, algumas delas — como a Claro, a Allos e a Rolex — desde o início do evento. “O índice de renovação é altíssimo, e estamos cada vez mais buscando contratos de longo prazo, que é uma prática comum fora do Brasil,” disse Márcia. “As marcas não compram só a semana do torneio. Elas estão comprando o direito de se associar à marca do Rio Open durante o ano inteiro, o que é um ativo muito valioso.”

O Rio Open é controlado pela IMM — a empresa de eventos que sucedeu a IMX e também organiza o São Paulo Fashion Week e o Cirque du Soleil no Brasil. O dono da IMM é o Mubadala Capital, a gestora ligada ao fundo soberano de Abu Dhabi.

Marcia CaszDado o simbolismo da data — os dez anos do torneio — a edição deste ano traz novidades importantes. Será, por exemplo, a primeira vez que haverá uma competição de tênis em cadeiras de roda.

O Wheelchair Tennis Elite será um torneio pequeno, com apenas quatro atletas, mas com um “significado enorme pra gente,” disse Márcia, acrescentando que a inserção de torneios em cadeira de rodas tem sido uma tendência entre todos os grandes torneios de tênis do mundo. 

Para a estreia do torneio, o Rio Open convidou alguns dos melhores tenistas da categoria: o japonês Shingo Kunieda, dono de 50 títulos de Grand Slam; os britânicos Alfie Hewett e Gordon Reid, que ganharam o Australian Open deste ano nas duplas; e o brasileiro Daniel Rodrigues, que já foi o número 11 do mundo. 

Outra novidade deste ano será a programação nos intervalos dos jogos. Márcia disse que pela primeira vez haverá telões de LED nas quadras, bem como intervenções de música e dança, e uma cerimônia de abertura. 

Para tornar o Rio Open 2024 ainda mais marcante, só falta um brasileiro levar a taça. 

Até agora, o Brasil não ganhou nenhum título do torneio e nenhum brasileiro sequer conseguiu chegar às finais do simples. O que chegou mais perto foi Thiago Monteiro, que foi até às quartas de final da edição de 2017, mas acabou derrotado pelo norueguês Casper Ruud.