No início dos anos 2000, o governo dos EUA contratou a Pelican para desenvolver uma embalagem capaz de transportar sangue para a guerra – permitindo que o material ficasse armazenado por mais tempo e numa temperatura estável.
(Por incrível que pareça, até então o sangue era levado em caixas de isopor com gelo).
A empresa americana teve acesso a uma tecnologia da Nasa e criou o Credo Cube – uma caixa de transporte reutilizável que isola completamente o ambiente interno e mantém a temperatura estável por 92 horas.
Fábio Martins conheceu o Credo Cube em 2017 e ficou chocado com a tecnologia.
“Eu nunca tinha visto nada igual para o transporte de sangue, vacinas e medicamentos,” disse o empreendedor, que fez carreira no setor farmacêutico antes de fundar duas distribuidoras que foram vendidas para o Pátria.
Fabio assinou um contrato de exclusividade para a distribuição do Credo Cube na América Latina, dando origem à Biothermal Logistics Solutions (BLS), que hoje atende mais de 22 farmacêuticas e laboratórios no Brasil – da AstraZeneca à Merck, do Fleury à Viveo.
Agora, a startup acaba de levantar R$ 20 milhões com Elie Horn, o controlador da Cyrela, para executar um plano agressivo de internacionalização.
A rodada é a segunda da BLS, que já levantara outros R$ 2 milhões em 2019 com Jack Magid, o dono da Magnum Relógios – que fabrica os relógios Citizen na Zona Franca – e investidor em empresas de tecnologia para a saúde por meio de sua Positive Investimentos.
No começo, a BLS importava os Credo Cube e os revendia para as farmacêuticas. Mas Fábio logo percebeu que o negócio não ia deslanchar: os tributos e custos de importação encareciam o equipamento, que custava em torno de R$ 5.000 – um dinheiro que as empresas não estavam dispostas a pagar.
Foi quando o empreendedor teve a ideia que mudou o rumo do negócio: alugar os Credo Cube, cobrando R$ 300/mês por caixa.
“Alugamos a mesma caixa em média 2,7 vezes por mês. Isso gera eficiência para as indústrias, redução de custo operacional e credibilidade junto à classe médica pela garantia do medicamento chegando na temperatura correta,” o fundador disse ao Brazil Journal.
A BLS faturou R$ 4,7 milhões no ano passado, mais que o dobro do ano anterior. A meta é faturar R$ 44 milhões este ano – dado que muitos contratos negociados nos últimos dois anos estão entrando em vigor agora – e R$ 100 milhões em 2023.
A rodada de hoje vai ser usada para investir em tecnologia e para acelerar a internacionalização da BLS, que já tem uma operação pequena na Argentina e Chile e pretende entrar no Peru e Colômbia nos próximos meses.
A captação vem dois meses depois da BLS abrir uma fábrica da Pelican em Joinville, a primeira da empresa fora dos Estados Unidos. A planta reduziu os custos da BLS em 30% e diminuiu o tempo de entrega dos equipamentos.
Todo o capex da fábrica foi feito pela BLS. A Pelican, que até então fornecia a caixa pronta, passou a vender os componentes para a BLS.
Segundo Fábio, o acordo de exclusividade entre as duas empresas tem duração de cinco anos. Mas, todos os anos, a Pelican reavalia o contrato e o estende por mais um ano, deixando o prazo sempre em cinco.
“Agora, com a construção da fábrica, eles estenderam por mais dois anos, deixando em sete,” disse o fundador da BLS. “É um ganha-ganha. Eles não viam a possibilidade de colocar as embalagens deles num país grande como o Brasil, com uma enorme dificuldade de distribuição, e a gente conseguiu. Isso criou uma confiança enorme.”