A Kangu — uma rede de pontos de coleta para o ecommerce — acaba de levantar uma rodada de seed money para expandir seu negócio para outras capitais do Brasil, tentando simplificar a logística do ecommerce num momento de forte crescimento do setor.
A captação foi liderada pelo NXTP Ventures, um fundo de venture capital argentino que já investiu na Cargo X e na Amaro. A empresa também tem investidores pessoa física como Américo Pereira Filho, o ex-presidente da FedEx no Brasil.
O modelo da Kangu funciona por meio de parcerias com pequenos lojistas de bairro, que se comprometem a receber e entregar os produtos aos consumidores da região em troca de uma comissão por entrega. (De quebra, o comerciante se beneficia do aumento do fluxo em sua loja).
A beleza do negócio — já comum na Índia, China e Europa — é que ele permite ganhar capilaridade sem grandes investimentos ou custos para a manutenção dos pontos físicos.
Menos de um ano depois de entrar em operação, a Kangu tem mais de 700 pontos de coleta em São Paulo e atende cerca de 400 operações de ecommerce, de pequenos lojistas a grandes players do setor.
A Kangu quer resolver três grandes gargalos da logística brasileira: a dificuldade de alguns consumidores de receber o produto em casa no horário comercial; os problemas (às vezes kafkianos) da logística reversa; e a falta de acesso dos pequenos sites de ecommerce aos grandes provedores logísticos, que só atendem varejistas que tenham um volume mínimo de entrega.
Consolidando a carga de vários pequenos lojistas, que deixam seus produtos num dos pontos da Kangu, a startup consegue dar a eles acesso a operadores como a Sequoia Logística e a Uello, acabando com a dependência dos Correios.
“O insight que tivemos é que já existia uma infraestrutura pronta de logística nas grandes cidades. O que faltava era integrá-la à cadeia e fazer toda a gestão,” Ricardo Araújo, o cofundador, disse ao Brazil Journal. “Estamos simplificando a logística; ao invés de fazer 200, 300 paradas, o entregador faz só dez.”
A startup já fez mais de 500 mil operações (de alguém que retirou ou postou um produto em seus pontos). O número está crescendo num ritmo impressionante: hoje já são “centenas de milhares de entregas por mês.”
Segundo Araújo, a Kangu já chegou ao breakeven, uma vez que o modelo tem custos baixos, mas precisa de capital para acelerar sua expansão.
Com a rodada, de R$ 6 milhões, ela planeja entrar no Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis e Vitória até o final do ano.
O mercado de logística para o ecommerce movimenta mais de R$ 20 bilhões por ano no Brasil e cresce a uma taxa de 15%. Ainda assim, a penetração das vendas virtuais no varejo ainda não passa de 5%.
A Kangu vê potencial de chegar a três mil pontos de coleta no Brasil e já vislumbra uma expansão internacional para cidades como Buenos Aires e Cidade do México, onde os problemas logísticos são semelhantes.
Na Índia, onde muitas casas não possuem CEP, a Amazon opera um sistema parecido ao da Kangu, credenciando lojistas independentes para receber seus produtos. O Alibaba também tem um modelo semelhante na China, enquanto a FedEx tem um acordo com a Walgreens nos Estados Unidos.
Por aqui, a Pegaki — uma startup fundada em 2016 — já vem fazendo esse mesmo trabalho. Mas ela começou focando apenas no primeiro problema que a Kangu ataca (a dificuldade dos consumidores de receber o produto em casa).
Antes de fundar a Kangu, Araújo e seus sócios, Marcelo Guarnieri e Celso Queiroz, foram diretores da Rapidão Cometa, a transportadora forte no Nordeste que foi comprada pela FedEx em 2012. Após a aquisição, os três continuaram diretores da FedEx por mais um ano até abrirem sua consultoria de logística, a RC Sollis.